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E dia após dia ela madruga...

 
E dia após dia ela madruga…

Arranja-se à pressa,
O leite para ferver,
O café para fazer
O almoço para acabar
As lancheiras para aviar
Os miúdos para acordar
As roupas e o leite para lhes enfiar
Os quartos para arrumar.

O marido acaba de se levantar
O café para lhe dar
Ele nunca mais acaba de se barbear
Ainda se vão atrasar
Os autocarros não sabem esperar
Ele não os vai levar
Não tem tempo para caminho desviar
Mas ela também ganhou para o carro comprar.


Finalmente tudo pronto para zarpar
Nem sequer os beijos rápidos já há tempo para dar
O mais novo ao colo o outro pela mão a andar
As lancheiras a segurar os autocarros para apanhar
No infantário um para largar,
Na escola o outro para deixar
A horas ao emprego consegue chegar.

O telefone a tocar
O chefe a chatear
A colega a coscuvilhar
O trabalho a acumular
O dia parece não acabar
As forças não podem faltar
Ela lá continua a lutar
Até chegar a hora de findar.

Corre para o infantário que está a fechar
Agarra no pequeno e corre para a escola fechada onde o miúdo está a chorar
Pega-o pela mão para o arrastar que o autocarro está a chegar
Chegam a casa quase a desmaiar
O banho aos miúdos para dar
O jantar para preparar
A casa para limpar
A roupa para passar
Os miúdos ainda querem brincar
Ele sem chegar

Tudo pronto para jantar
Nem um minuto conseguiu parar
Ele já está a chegar
Correm os miúdos para o abraçar
Esquece-se de a beijar
Senta-se à mesa a jantar
Os miúdos tem que se lhe dar
Ela janta com a comida a enregelar
Já ele acabou de se levantar
Já a televisão foi ligar
E a cozinha para arrumar
E os miúdos para deitar
E a roupa para lavar
E a fadiga a atrofiar
Cai no sofá sem falar
Vai para a cama a cambalear
Ainda mais coisas para arrumar
As roupas de amanhã a preparar
Cai na cama a estoirar.
Ele, para a televisão fica a olhar
Adormece sozinha sem sonhar
Amanhã tem um novo madrugar…


Eu cansei-me só de imaginar!!!


Mães, mulheres, esposas, trabalhadoras (in)felizes
Que não sabem dizer não à escravatura submissa do lar.



 
Autor
MariaSousa
 
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Enviado por Tópico
Gilberto
Publicado: 04/08/2007 17:50  Atualizado: 04/08/2007 17:50
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Usuário desde: 21/04/2007
Localidade: V.Nde GAIA-Porto
Mensagens: 1804
 Re: E dia após dia ela madruga...
Maria:isto é o retrato de qualquer pessoa comum.
É infelizmente, a rotina diária de milhões de mulheres, homens, famílias.
Será que é possível mudar muito, nesta rotina?
Haverá sempre alguém, que terá que fazer essa lida, doméstica, não será?

Não estou a imaginar, vivermos nalgum mundo imaginário. Onde toda essa lida, não seja necessária.

Uma boa reflexão, do dia-a-dia, de pessoas comuns.

Beijinho




Enviado por Tópico
ângelaLugo
Publicado: 04/08/2007 22:02  Atualizado: 04/08/2007 22:02
Colaborador
Usuário desde: 04/09/2006
Localidade: São Paulo - Brasil
Mensagens: 14852
 Re: E dia após dia ela madruga...p/ MariaSousa
Querida Maria

Este teu poema do cotidiano ...Muito bom!!!
Nossa!! Que vida destas mulheres que vivem
a vida toda assim tem dias que nem lembram
de si próprias por não ter tempo o seu dia
é todo tomado por outros que estão ao seu
redor...O homem infelizmente com este lado
de machismo nunca querem ajudar em pleno
século XXI isso deveria já ter mudado, pois
a mulher continua no fundo sendo escrava do
homem e de todos ao seu redor...Ela é mãe
mulher, amante, cozinheira, lavadeira,
arrumadeira, na minha opinião tinha que ser
um trabalho remunerado...Porque haja pasciência
para ser tantas em uma só....
Parabéns Maria muito bom para todos os homens
lerem e ver quanto sua companheira tem valor

beijo doce n'alma

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/08/2007 22:31  Atualizado: 04/08/2007 22:31
 Re: E dia após dia ela madruga...
Deves ter ficado com falta de ar.
Mas foste injusta comigo.Não há nada na lide diária de uma casa que eu não saiba fazer.
E faço todos os dias não como obrigação mas como partilha de uma vida a dois ou melhor a quatro.
E repara que sou o único homem numa casa com mais três mulheres.
Essa carapuça eu não vou enfiar.
Abraço,
Silvério