Ainda não estou preparado para perder-te!
É que a lua ainda encerra em si a beleza da madrugada
E o orvalho, que pende das folhas,
São o meu choro, nas águas o marulho,
Que verte sem sentido de destino ou chegada.
Ainda não estou preparado para perder-te!
Pois os campos encerram em si os braços dos homens,
Os braços que eu gostaria de ter um dia se a poesia
Se me escapasse pelas mãos, como ampolas de sangue,
Vestindo meus dedos delicados e refinados.
Ainda não estou preparado para perder-te!
Pois todos os sonhos são aqui possíveis e tu, embora
Tímida, vens com eles, para me enlouquecer os sentidos,
Com o teu ventre amistoso e desejado,
Pelos homens pobres da aldeia que eles guardam com afinco.
Ainda não estou preparado para perder-te!
E há luz mortiça do castiçal vejo a tua sombra no espelho,
Correndo para cá e para lá, como que procurando algo
Que tivesses perdido e não lhe achasses o sentido…
Mas, e o que fazer de mim, se sou aquele que te diz do amor?
Ainda não estou preparado para perder-te!
Ah, quem dera aqui, todas as aves viradas ao futuro,
Sobressaindo-lhes a vontade de um querer irreversível,
A mesma vontade férrea que eu tenho a cada instante meu
Que faço nosso por nos amarmos.
Ainda não estou preparado para perder-te!...
Jorge Humberto
03/08/07