As meias tardes nos protegiam,
E nós escancarados alheios a tudo,
Só importava a ânsia do desejo,
Da volúpia que ardia e exigia mais.
O quarto pobre, ventilador no teto,
Soprava para longe qualquer pecado,
Não levava, contudo, o cheiro doce,
Do suor que exalava da nossa luxúria.
Nossos corpos ungidos pelo óleo da carne,
E nossas carnes ardendo, sem queimar,
Queimava sim o calor de cada toque.
Todos os movimentos eram acordes,
Que nos elevavam às nuvens como se música fosse,
De tambores, guitarras, violinos, flauta doce,
Até o cansaço fazer silêncio, em êxtase,
Só então presente nossa respiração.
Lençol no chão, roupas amassadas,
Cumplicidade em cada olhar,
Pecado em cada beijo, promessas no aceno,
Esperança de mais uma tarde,
E mais tambores para nosso desvario.
EACOELHO