Declaro-te!
Nas limalhas da tua consciência, desenhada nas ruas da bravura do tempo, erige um culto de sombras ateadas pela vaga passageira da visão dos homens.
Se deles advêm um amor estranho, quase sorumbático, que ousam defender como um escudo ou como a maior das virtudes da humanidade, já de ti, surge uma compreensão fria, quase estática, que fere o orgulho patético dos que te querem fazer mal.
Ainda sobrevives nestas constantes mutações ditadas pelo homem, num silêncio amargo, de cores inconstantes, com que vestes o olhar altivo em defesa desse corpo entregue a mãos alheias.
Há-de chegar o tempo de teres voz!
Há-de chegar o momento em que contarás a tua história, a verdadeira, sem interferências ou desvios, para que outros olhares possam admirar-te como nasceste e como foste sobrevivendo, em cada passo ligado ao tempo, que sustentas alicerçado ao desejo de seres apenas uma cidade sensível.
Poderias ser uma Roma, Paris ou Madrid, tuas vizinhas mais chegadas, mas não, não porque nenhuma delas tem mesma intensidade e aconchego que tu, minha querida Lisboa, possuis.
Tu és minha, a minha cidade que me adormece e me acorda, nesses braços da memória de árvores, planícies e montes, que abraçam, de forma meiga, o meu amanhã.
Declaro-te eterna ao meu amor!