Chamam-lhe Travessa das Almas
Lá, onde as sombras do tempo mais pesam
Lá, escava-se a terra
Lá, entre outros como tu, escavas a terra também
Que já não é terra alguma, que já não és tu alguém
Que já não é a tua terra, nem tu és de ninguém...
Lá, continuas…
Continuas escavando
Abatido sob um sol morto, estéril
Tu escavas e inventas o preço num mercado de dúvidas
Afundas a alma num arco de desertos e escavas…
Enquanto todos adormecem
Enquanto todos sonham
Esqueces que tens uma cama
Esqueces, apenas…
Distando sujo, sujo de tão só
Encardido por fazer, por aceitar
E mais uma última rua desces
Extraviado por essa viela desamparada
Que se alonga órfã pelo destino que escavas
Lá, onde as sombras do tempo mais pesam
Na Travessa das Almas
«Antes teor que teorema, vê lá se além de poeta és tu poema»
Agostinho da Silva