No teu copo
degustas a água-ardente da vida
mágoas que se transformam em raiva
lágrimas que escorrem n´alma
No teu copo
lutas por inundar a correnteza
na tormenta amortecida pelo álcool
que se infiltra célere pelas veias
No teu copo
solitário, fazes do trago companhia
no fiel escudeiro do uísque mais barato
da cachaça de origem duvidosa
No teu copo
mais uma dose, garçom, pra afogar
colocar debaixo do tapete frustrações
até entorpecer e ser carregado do salão.
No teu copo
já quase a molhar o colarinho branco
sente o alívio de chutar o balde
enquanto desce mais uma pela garganta
No teu copo
segredos a agitar o coração
na tormenta dos dias, primeira dose da manhã
para curar da ressaca e da abstinência.
No teu copo
sonhos que despertam a mente
na chegada da noite, no clima ébrio
nas tabernas, na dança das cores.
No teu copo
fluem desejos nos olhos vermelhos
no corpo já virando Torre de Pizza
na direção inevitável do banheiro.
No teu copo
nas mãos que se enlaçam sem ânimo
nas trevas que a libação leva
nas frases macias, na voz trêmula.
No teu copo
destilas os sonhos e fantasias
perdes toda a censura e compostura
adquires outra personalidade: ébrio.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em julho de 2010, a propósito do uso abusivo do álcool cada vez mais frequente e estimulado em nossa sociedade, junto aos jovens com propagandas milionárias.