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Narrador Intruso 1

 
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O cabelo, como um cão atado, era de um castanho acinzentado com espetos brancos brancos aqui e ali. Era isso, enlouquecera. A voz, que disfarçadamente fora a dele por tantas páginas, tantos mundos, agora falava com ele. Cala a boca! Que isso Pedro, não disse nada. Desculpa, tava pensando alto. Tá tudo bem, amor? Uhum!.. Tudo bem mesmo? Claro, só estou pensando em um personagem. A mulher volta às funções da casa.
Ele caminha para longe, a cadeira fica chiando em seu guizo de maremoto, dentro do poncho o homem carrega o fumo, o cachimbo e algo mais, escondido preso à cinta. No horizonte soca o fumo e acende, uma, duas tragadas. Se não cala, eu calo, filho da puta! Puxa a adaga da cinta. Como pretendes fazer isso? Tira sarro. Te sigo onde for, descrevo as cenas e ainda faço juízo de teus patéticos passos. Agora quem faz troça é Pedro, traga uma, traga duas, traga três, expira a fumaça. Escrevo minha história, te tranco num livro e não público. Condenado a uma gaveta, empoado, morto, ainda derramo café, chimarrão nas tuas páginas, tomando cuidado pra não te destruir, pra não te libertar.
Ele silenciou, aquela segunda voz, de uma terceira pessoa, com intuito de ser segunda, nunca mais foi ouvida.
 
Autor
pmatiass
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