Corre um vento frio por toda a madrugada
Como um lamento vazio que até parecia uivar
E com ele venho a chuva; lavando com água gelada
Todas as luzes no apagar de seu olhar...
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E essas intempéries parecem dividir o nada
São ventos que sopram forte, numa outra viração
Até que chuva caía forte, e corra pelas calçadas
E escorram pelo leito da rua, até sumirem no chão...
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Perco-me nos sons desta tempestade, e na ilusão
De ter por necessidade, o calor afastando-me da noite fria
Mas distraio-me ao longe com os raios, e o eco de um trovão
Que faz tremer o chão, onde meu tormento espargiria...
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Assim calculo meu tempo em uma matemática irracional
Pois não há cálculo que venha quebrar com este ritmo
Não vou parar de sonhar, mesmo que não me pareça normal
E vou deixar o vento soprar, até onde toca o meu intimo...
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E assim sugere o relógio, são três horas da madrugada
A alma quente e o reflexo do corpo nu no vidro molhado
Reflexo indolente, a sombra de uma luz apagada
Meu espírito entra a noite, e eu mantenho-me acordado...
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Perdoe-me pelo que eu não fiz, mas levo-me por esta monção
Assim com ela me esparramarei aonde o mundo se esconder
Vou dividir-me em pedaços, até transformar-me numa fração
Serei o fogo do aço, o triunfo do que não podes vencer...
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Pois onde houver os ventos vindo do norte, tu há de lembrar
O que se tornou congênito, em toda esta sua pluralidade
Pois tu és filho de um vento que sopra forte no mar
E tem a singularidade de sua mãe que se chama tempestade...
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E tu és como ela, a cada pequeno sentido de tuas emoções
É um espelho d’água de imagem forte, onde a chuva cai
É és torrencial na sua essência, e levada pelas monções
Filho do vento e tempestade és o rei dos temporais...