Poemas : 

uma conversa com a mar

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


não ficas só mar. esse mar onde vais lançar a âncora também é meu. tenho por detrás daquela rocha enorme que te tira o sol uma dor enterrada – dou-te metade dessa ilha minúscula no meio do nada para poderes enterrares as tuas dores – mas não podes enterrar as dores todas. tens que ficar com algumas debaixo do pé direito. temos que conversar – também eu digo ao mundo que há uma razão para escolher as palavras – mesmo quando as mato tenho uma razão – às vezes a razão é uma solidão que mora dentro das multidões – mora num corpo que vê dento o que não há fora – este corpo chulo tira-me tudo. vende-me. prostitui-me e todos os dias. cobra de mim uma alegria que deixo ficar nos pensamentos que afogo em cada soluço de agonia – estou só. estou e estarei só – tenho apenas uma putas de umas palavras que escrevo por aqui na procura de uma ilha maior para enterrar o corpo todo – um dia juntarei toda a poeira que há dentro de mim e faço essa ilha.
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 27/06/2010 15:50  Atualizado: 27/06/2010 15:50
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 Re: uma conversa com a mar
como não gosto de me intrometer nas conversas dos outros,apenas vim cá,li,vi,senti e (quase)calei.
talvez as solidões às vezes dêem as mãos...

beijo aos dois


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 27/06/2010 17:44  Atualizado: 27/06/2010 17:44
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 uma conversa com o sampaiorego
tenho vontade às vezes de apertar o pescoço às gaivotas e interrogá-las, questionário longo e demorado sobre morte e amor. tu sabes que às vezes a vontade ultrapassa a certeza. estaremos vivos dentro dessa ilha que falas. quero estar contigo. conversar. demasiado tempo só faz-me mal, bem sabes.
bem sabes. chamam-se memórias e andam por aqui. como ideias.

espero-te

um beijo,
mar.


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 30/06/2010 03:10  Atualizado: 30/06/2010 03:10
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 uma conversa com o sampaiorego
esta terça também não apareceste. tinhas agendado contigo uma conversa sobre assuntos quase a morrer ou insónias. quis dizer-te que o coração respira debaixo de água e ainda bate. apesar de tudo. ainda que. ainda assim. mas como dizer-te alguma coisa quando não te vejo. calo-me. quis dizer-te sobretudo que hoje está frio, é madrugada de quarta-feira, estou à entrada de casa a ouvir os cães. estavam longe e agora estão aqui, no fundo da rua, com as patas à procura de uma toupeira que acabou de se esconder. a toupeira é um bicho curioso. onde andas enquanto isto acontece. devias escutar-me. tinha agendado para nós uma das melhores e mais importantes conversas de sempre. vou estar fora. se é que já não estou. vim aqui dizer-te que estou. só.

um beijo,
mar.