Guardo a alma e o corpo
num gesto qualquer,
solto um assombro sem nome
num corpo mulher, e amo
o choro sem voz de um tempo
que fede e adora
o sofrer da alma
em forma de ninguém.
Alguém estende a mão
em busca de alguém assim,
sobre as ganâncias de amor e sol
que um dia são ímpares e minhas
outro dia são de alguém,
haja no coração a vontade que houver
e na sombra o medo que seja...
Sinto o chão a desfalecer
entre outros ocidentes, paixões
e na volúpia dos sentidos
bebo um trago de crinas loucas e sós
pela viagem que mereço ser,
seja o futuro aquilo que quiser.
Trato-me com lamentos ausentes
embalados pelo ardor do voo quente.
Quero-me nos rins do sono
como Ícaro de uma fome ardente
enrolado na língua como a solidão
de um fim de dia, prisioneiro
ou o amanhecer de um novo sentimento
calvo de inglórias vivas e selvagens
que ora morrem, ora riem
com a verdade do meu momento.
A carne gargalha a fantasia
que não tem, as cores murcham
e a vida vai deixando os olhos
com agonias de penar e dor,
a qualquer hora e em qualquer dia.
Calo-me no calor de um poema breve
que só não fala o lume algemado
desta mentira surda
que atiça a força e o amor
à luta sem par nem lugar...