Crónicas : 

Missa do Oitavo Dia

 
As palavras servem para imensas coisas. Servem para acariciar as mentes, ocultar desejos, simular propósitos, atacar e defender ou para apelar à memória.
Quem escreve deve ter essa noção e responsabilidade na forma como quer usar as palavras e também deve ter a consciência que irá ser lido por diversos estilos de leitores…

Apelar à memória… e porque é disso que hoje se trata. Quando todos estamos concentrados no jogo de futebol do campeonato do mundo entre as selecções de Brasil e Portugal, em que nada importa quem ganha ou quem perde, se a nossa memória esquecer o nosso passado. Melhor, importará no momento e pouco mais, porque depois outros momentos ocuparão cada espaço do leitor e de cada escritor.

Não preciso recuar até ao ano de 1500 para apelar à memória, prefiro recorrer aos tempos mais próximos, quase como um jogo, em que o que importa é quem de facto perdeu!
E nesse misterioso trajecto, apelidado de jogo, fico perante a tristeza de hoje ser um dia marcante porque faz, exactamente, uma semana que quem perdeu o jogo nos deixou – José de Sousa – mundialmente conhecido por José Saramago.

Há, de facto, jogos em que perder não tem a relevância que se quer dar, e outros jogos, como o da vida, que tem muito mais relevância do que aquela que se dá… Tão simples quanto isso, quer se queira ou não.

Hoje celebra-se a missa do oitavo dia da sua morte e quase já ninguém se lembra desse facto. Porque a vida tem outros atractivos, porque é intensa e flui com naturalidade ou porque a memória é um músculo que nunca ou pouco foi exercitado.
Mas quem perdeu foi a literatura portuguesa e mundial, o que na verdade significa outra realidade; quem perdeu fomos todos!

Hoje quis praticar o meu direito de desenvolver este músculo que possuiu que se chama memória, que ao fazê-lo, pratiquei e desenvolvi outros músculos como o da escrita e o do pensamento, num velho hábito que procuro manter.

Que ganhe o melhor, no futebol, se isso for assim tão importante, mas que nunca se esqueça a memória de um povo, a razão de um escritor e a consciência do dever.

E já agora, não se esqueçam de amanhã, que no auditório do campo grande acontecerá o lançamento do meu primeiro livro de poesia “Metamorfose do Corpo”, para em conjunto saborearmos o doce das palavras.

Até lá…
Eduardo Montepuez





Eduardo Montepuez
http://montepuez.blogs.sapo.pt/

O meu último livro:

"O Espírito Tuga" - LUA DE MARFIM (2011)


 
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Enviado por Tópico
Morgado
Publicado: 25/06/2010 16:25  Atualizado: 25/06/2010 16:25
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 Re: Missa do Oitavo Dia
Amigo Eduardo Montepuez li na sua crónica, aliás muito bem escrita, que: "Hoje celebra-se a missa do oitavo dia da sua morte"
Fiquei na dúvida por esse acontecimento dado que, tanto quanto era do meu conhecimento, este escritor era um "fervoroso" ateu. Ou estarei enganado?
Um abraço


Enviado por Tópico
rosa-branca
Publicado: 25/06/2010 16:34  Atualizado: 25/06/2010 16:34
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 Re: Missa do Oitavo Dia
Parabéns poeta, que seja um sucesso esse teu livro. Quanto á memória... o povo lembra e esquece o que quer e bem na hora. Descanso eterno para o nosso poeta. Beijo meu