No silêncio de meu abrigo,
Ouço o mundo a rumorejar
Em trovões, raios, fortes ventos
A lançar gotas em minha vidraça
Recolhido em minha cela,
Como um pequeno asteroide,
Perdido no universo, inseguro
Teme uma chuva de meteoros.
Neste medo coletivo, tempos trágicos,
Todavia, a tempestade mais grave
Não vem destes céus cinzentos,
Vem na chuva da repressão...
É mesmo difícil perceber nesta visão
Que lá longe, ainda há cantos entoados
Os camponeses agradecem aos céus,
Por seus prantos mágicos...
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em novembro de 1977.
Imagem: Chico Buarque na Passeata do Cemil contra a ditadura militar no Rio de Janeiro, em 1968.