Prosas Poéticas : 

Junho

 
Porque todos sempre se vão admiro-me a mim, nesse constante aborrecer-me.
Escrevo-me em breu que não se destila e de todas as labaredas que me devoram,
a poesia é um rio de fogo cuja nascente se duplica no verde palha dos meus olhos.
Sou de consumir o inverno inteiro num só ventre meu; em postas as mãos, debulhadas no papel. Nascem de mim jardins às avessas, poemas cobertos pelas sombras que meus lábios deixam na trajetória do impossível.
Quisera dizer-me na palavra de um amor, pequena como um poro de epiderme, grande como o junho que se estende em frio e em jejum. Quisera dar fim à posteridade que se avizinha, soberana, amarga, silenciosa; soterrar-lhe as certezas ambíguas no piscar de um amanhecer e decantar-me enfim no leito branco da última página.
Porque todos sempre se vão admiro-me a mim, nesse constante aborrecer-me.


 
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Amora
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Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 21/06/2010 19:09  Atualizado: 21/06/2010 19:09
Membro de honra
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 Re: Junho
Li como se escrevesse...
porque tantos me dizem, estranho-me a mim, por tão pouco saber dizer...

Gosto muito de a ler, amora intensa.

Beijinho!


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 21/06/2010 21:01  Atualizado: 21/06/2010 21:01
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 Re: Junho
Dorinha,
És um deslumbre!
De te ler ninguém, por certo, se vai aborrecer.
Beijinhos
Nanda


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 23/06/2010 00:57  Atualizado: 23/06/2010 00:57
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 Re: Junho
Intensamente o poema vai contornando o papel como água, criando o caminho. Beijo querida