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Leituras 18 – Bruno Miguel Resende

 
O Bruno Miguel Resende, do qual já apresentei um livro, é um autor que traz para a sua poesia alguma violência verbal.

Movimenta-se num plano de ideias entre uma certa religiosidade, mas no sentido de re-ligare, isto é: estabelecimento de uma ligação entre o conceito de homem e o conceito de deus; próximo aos deuses primordiais, ao paganismo; e uma ideia de anarquia, não só no conceito político-filosófico do termo, mas, também, no que comummente associamos a esta palavra.

Os seus trabalhos reflectem a necessidade de colher os escombros, dando-lhes um certo sentido, reorganizando-os, não de forma a transmitir ao outro essa organização, mas para que o outro destes saiba da existência.

Depois, a componente ligada ao amor que nos é amiúde apresentada de uma forma mais de carne, mas que é, por uma visão de interacção de opostos, uma superação; isto é: este núcleo imagético preconiza um espaço de comunicação com o todo, quase diria, através do amor, a representação da dança dos dervish.


Xavier Zarco

 
Autor
Xavier_Zarco
 
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Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 21/06/2010 14:54  Atualizado: 21/06/2010 23:45
Usuário desde: 22/08/2009
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Mensagens: 3357
 Re: Leituras 18 – Bruno Miguel Resende
O Bruno é um autor que me transmite uma certa ligação com um mundo desconhecido que se assemelha à crueza do nosso.
Recria imagens muitas vezes violentas mas com um toque sensível.
Não é fácil entender o que o ser poético nos transmite é preciso saber interpreta-lo.

existe algo de transcendente nos seus poemas.

obrigada pela partilha

beijo



Enviado por Tópico
Bruno Miguel Resende
Publicado: 25/02/2011 01:47  Atualizado: 25/02/2011 01:47
Super Participativo
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Localidade: Porto
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 Re: Leituras 18 – Bruno Miguel Resende
Que agradável surpresa camarada!

Nos estandos e humores que vão compondo a anarquia que é permanente, por isso mesmo, se vai navegando na estruturação do nada como forma de se produzir algo. Não recriar. Das águas primordiais erguer uma e outra vez. E destruir. Eternizar o efémero. O instante.

A vulgar utilização da palavra "amor" obriga ao uso de outros léxicos ou de uma definição exaustiva de tão vácuo aglomerado de letras. A superação da carne é a entrada no erotismo, na percepção de eros e psique, da descristianização absoluta da emoção e catapulta para os fluídos poéticos, como tão bem um dervish demonstra imagéticamente algo tão supralinguístico.

Sublime é a arracionalidade, ausência de raciocínio, que se consegue construir por destruição do mundo idealista platónico. Eis que a derivação espiritual me levou ao mundo dos dervishes, à tradução da poesia sufi de mahmud shabistari, e à construção de um espectáculo em que dervishes dançavam cosmicamente ao som da poética sufi invocada pela minha matéria.

Uma existência vale a pena quando por breves momentos se atinge a transcendência.

Forte abraço camarada!

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