Para se chegar à aldeia percorria-se um caminho sinuoso que subia a serra, feito em paralelepípedos arrancados do seu ventre por mãos duras e estriadas pela inclemência da pedra rugosa, depois assente com uma paciência infinita que zurzia as vértebras dorsais quase que de gatas percorrendo a serra acima sem o conforto de um motor e de uns estofos que lhe acomodassem os esqueletos. A estrada seguia caminho em curvas tortuosas sempre a subir tornando rossinantes os motores que a subiam fazendo os cavalos dos orgulhosos bólides resfolegar no esforço que antes era feito pelos seus habitantes quando vinham da vila onde acorriam para vender o pouco que a terra ingrata lhes devolvia ao suor gasto a remexê-la, a semeá-la, a plantá-la, a regá-la, a colhê-la. Subia, subia até que se desenhava um pequeno planalto aninhado entre a cordilheira onde morria a estrada tão tortuosamente desenhada na entrada de um largo debruado a pequenas laranjeiras estéreis como os velhos que se aninhavam nas soleiras ávidos pelo sol ameno que lhes aquecia as articulações, mãos esganadas escondidas nos largos bolsos. O largo tinha a sua igreja possuidora de parte das terras que os aldeões lavravam e de quem cobrava o seu quinhão, para manter a larga batina do abade, negra como o asfalto que nascia no adro e percorria o largo caminho até ao cemitério. A estrada inclinava-se no sentido descendente porque a descer todos os santos ajudam.