Sempre, sempre em busca
da essência do tudo,
da ausência do nada,
me vi à procura da verdade.
E me lancei.
Por entre os rumos,
a descortinar a rota certa:
e nos espaços - senti o vácuo,
nas trevas - percebi a morte,
nas ermidas - senti a solidão,
nos muros - lamentei a segregação,
nas etnias - senti a discriminação,
nas moedas - percebi o poder e a especulação,
nos governos - lamentei a opressão,
nos ricos - senti a ambição e a ostentação,
nos pobres - percebi a fome e a exclusão.
E corri,
Destes rumos,
destas rotas incertas.
Pois, no vácuo - só existe a incerteza,
na morte - de quem vive é única certeza,
na solidão - ver à distância o valor do amor,
na segregação - ver destruídos os muros, os guetos,
na discriminação - ver o quanto somos irracionais,
no poder - ver que se escoa na ampulheta da vida finita,
na opressão - lutar pela queda iminente do sistema,
na ambição - ver a desgraça da condição humana,
na fome - ver a saciedade na graça de um paraíso divino.
AjAraújo, poema escrito em 1978, nos tempos da Faculdade de Medicina, nos contatos com vítimas da violência social e urbana.