Estradas paralelas
percorrem meu corpo
como duas linhas iguais
mas equidistantes.
Sou tudo o que há e o
que não há
paralelepípedos
no raso de meus olhos.
Paredes com pregos
seguram quadros
com retratos mortos
em cinzas maleáveis.
E eu percorro o corredor
com estátuas eminentes
que sobem a escadaria
em direcção ao quarto.
Máscaras lá dentro
recolho uma ao acaso
e me maquio em
um novo sangue.
Saio à rua onde tudo é
disforme e grotesco
um homem se recusa andar
completamente alienado.
E as crianças na sua macia
infância brincam com
o desgraçado
atirando-lhe pedras.
Cães uivam à lua
quando tudo parece
rasgado pelo silêncio
é a noite dos cristais.
A fogueira vai queimando
os livros que os nazis
negaram a luz do dia
e a cultura vai nua.
Meus olhos sangram
é preciso a ferida
para saber como foi
e como será doravante.
Jorge Humberto
17/06/10