Guarda-me a faca cor de sangue, preparada no altar.
Venho hoje, vestido de vestes claras,
despido do clarão, que ofusca a sanidade nos meus olhos.
Minhas palavras preparam-se,
os incensos erguem-se nos céus,
o ar perfuma-se com o odor dos meus lábios.
Saceia-me com o cheiro do sagrado,
com o mergulhar do altíssimo na minha pele aveludada.
Grita a minha alma na pedra fria do altar já pronto,
chispam sons de uma fogueira que arde, que se expande, louca.
É noite, e os fantasmas vagueiam no meu quarto,
afugento-os de mim, queria ter-te aqui.
A escuridão não me sossega, falta-me o teu verso quente, um texto para ler em noites de insónia, uma página rasgada de um livro que foi só nosso, no qual ninguém tocou, onde ninguém ousou depositar o olhar, que devoramos em segredo proibido.
Dou-te um bafo sacro, um beijo na tua mão, suada de suspiros,
uma caixa não aberta onde guardes os teus mistérios.