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a casa de r.

 


. façam de conta que eu não estive cá .








quase sempre à porta de casa. o rosto quieto entre as mãos do corpo - espera - mais tarde é-o a noite. antes de chegar já lá estava como a sombra quando o sol nos dá por trás. no contra-luz da paisagem movimentam-se algumas árvores, famintas de pássaros migrados para sul, recheadas de fruto, o ventre camuflado verde. traz uma casa às costas, desce o ramo e perde-se folha, saliva junto ao corpo - lesma - caracol. quase sempre à porta, à boca. há morte. revisita-lhe a angústia, um retrocesso de si, como a memória curta das flores. a serenidade no cio do bicho prenhe de saudades. e a noite descia da copa das árvores até à terra, uma textura escura dentro da pele. forma-se longe a certeza de morrer só, como as flores, as que apodrecem nas primeiras chuvas.









 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 16/06/2010 20:25  Atualizado: 16/06/2010 20:25
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: a casa de r. para mar
luz e sombra.vida e morte.
as flores ,talvez breves lembranças de amor,ecos longínquos de esperança,férteis... e o escuro,húmido a fazer-me algo de profundamente sexual...quase que...simbolicamente,"sagradamente", sexual.a brevidade de tudo confrontada com a longa
espera solitária da quase única certeza,o fim.

assim te li,"maluca" que sou...sei lá porquê...rs.

beijo,mar

Enviado por Tópico
sampaiorego
Publicado: 16/06/2010 20:58  Atualizado: 16/06/2010 20:58
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2010
Localidade: algures virado para o mar com gaivotas
Mensagens: 1147
 Re: a casa de r.
deixei-me apanhar pelo medo da noite – é nas sombras que perco a pouca esperança que consegui guardar no cantil que traga pendurado à cintura – nos suores gastos na raiva de não me encontrar. chega a primeira luz da manhã – o cantil rega então as flores que murcharam com a noite para mais uma pequena primavera – os lençóis continuarão encharcados da vida perdida

beijo mar

sampaio(r)ego

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/06/2010 23:04  Atualizado: 16/06/2010 23:04
 Re: a casa de r.
eu engulo a noite, é nela que enfrento a escuridão. as flores ganham outra forma, é quando se sentem vivas, respiram. e no entanto, o que lhes co-dá vida acaba por as escurecer. a casa acolhe-as e repele-as. por isso, a casa é só uma casa.

beijo