Enfeitiço-me, sim, nas amarras das barcas negras, atracadas no caís de lodo. Exorcismos de magias pardas, crepusculadas pela maresia em noites breves de lua cheia. Caminho a luz do luar, enegrecido pelo encanto já podre. Amanhã não nascerei. O sol já me excomungou e a madrugada escorrega como vinho lento pela minha garganta aberta. Declamo palavras sórdidas, lembranças de um pensamento que é maré e luz de fogo-fátuo renascido nas cinzas da pira encantada onde deposito minhas exéquias. Já te silenciaste, o vento contigo. Não me amas mais e amaldiçoo-te para sempre, ó vento agreste, que me dilaceras em dois, que me perturbas as noites e não me dás descanso, que me fazes correr os rios de sangue no corpo e o desejo, que me corrói por dentro e me mata lentamente. Vem, ó vem lentamente, e eleva-me, enfastia-me de paixão, abre em mim uma ferida ardente, que me possa deixar parado, inerte, torpe e doente, que me possa fazer despertar o fogo dentro, que me permita amar de verdade o que já não mais vislumbro como amor.