Foi numa manhã com sono
Que dei por mim a perguntar
Avô como é o Alentejo
Avô como é o teu lar?
Foi nessa manhã dormente
Que vi meu avô chorar
Vi nas suas palavras, um novo céu
Vi um novo olhar!
Foi assim que ele disse,
Bem assim mais ou menos,
Com medo que a lágrima fugisse
Balbuciou quase um segredo.
Falou-me que logo pela matina
Mal via o sol raiar
Já tinha de 'tar no cimo da colina
Já tinha de 'tar a trabalhar
Falou-me que no verão
O sol deixava de ser nosso irmão:
-Questão fazia em madrugar
E tardava a ir descansar
Falou-me de uma vida vivida
Falou-me de um cultura quase esquecida
Falou-me de um postigo aberto
Sem medo do incerto
Imaginei um povo desconfiado
E ele convidou-me a entrar
Aí vi que após um trabalho árduo
Ninguém hesitava em farrar
Ai disse-me que logo pela matina
Ele ouvia entrar pela cortina
O som das campinas
Naquelas madrugadas vivas
E nessa noite esperei até amanhecer
Deitado num longo rego
Afaguei o rosto do meu velho
Até o ver sorrir e perecer