No mínimo daremos cinco zero ao Brasil, trazemos a taça embora com o melhor champanhe lá dentro e ainda temos tempo de importar uns pretos para vir trabalhar nas obras. Quando joga a selecção, joga o país inteiro, homens, mulheres, crianças, velhos acamados, atrasados mentais, adiantados mentais, histéricos, casadas, viúvas, virgens, desvirginadas, pobres, ricos, remediados, drogados, pessoas de bem, pulhas, catrapulhas, padres, protozoários, enfim, Portugal inteiro de olhos postos nas jogadas, no esférico, nos craques, no pano verde e vermelho da bandeira nacional.
Um mês e muitos dias a sofrer como dementes, a roer as unhas, a afiar a língua com Super Bocks, Sagres também, a gritar golo quando não é, a tapar os olhos quando o adversário se aproxima da nossa baliza, com suores na testa, tremeliques nas pernas, comichão nas orelhas, febre nos perlimpimpins.
Neste período estamos muito ocupados em discutir pressentimentos, lances, a chamar cabrão ao árbitro, a sonhar com a glória, não a Glória que mora lá mais adiante, mas a glória do nobre povo que sentimos na voz quando gritamos: Por-tu-gal, Por-tu-gal!
A nossa moral lá em cima, os problemas da nação em stand by, a aguentar os cavalos, os larápios com o caminho livre. Podem roubar à vontade, mas não assinalem faltas mal assinaladas! Pode um automóvel vir por aí distraído, feito animal mítico e matar meia dúzia, mas por favor, não lesionem o Cristiano Ronaldo. Esse faz falta para o poster.
Podem fazer trinta por uma linha, levantar a cara do juro, meter droguinha nas cadeias, arrombar cofres-fortes, dar o ouro ao bandido, pôr de luto os salários, que nós estamos aqui para gritar: Por-tu-gal, Por-tu-gal.
Pode até o fado se tornar rock alternativo, as putas se enfiarem nas matas densas, os pedófilos fazerem estudos de mercado, os velhos sonharem “rente aos cemitérios”, ou as sempre e mesmas sardinhas cair-nos no prato, porque nós, somos cools, e gritamos: Por-tu-gal, Por-tu-gal!
Enquanto um cego pede licença para ver, o pintor pinta um quadro a sangue fresco, os parafusos sem saberem em que porca se hão-de meter, a realidade perdendo a rolha, nós gritamos: Por-tu-gal, Por-tu-gal!
Enquanto nos dão lições de moral, cursos de novos oportunistas, sonhos paquistaneses, felicidade em supositórios, portas que se abrem para outras portas fechadas, nós gritamos, Por-tu-gal, Por-tu-gal.
Por outro lado, imaginem só o bom que é, durante o mundial de futebol, cagar no pacto de estabilidade económica, querer lá saber se o Sócrates está metido nisto e naquilo e naqueloutro e naquele mais outro que vai surgir. O importante é que não nos lixem com horas extras porque os jogos é às sete e, a partir das seis começamos a festejar, a aquecer os motores da alma, a pintar a cara de vermelho e verde, a vestir a camisola do euro 2004 e gritar: olé olé olé olé, Portugal, é que é.
Triste notícia não foi saber que as Scuts vão levar com portagens em cima, foi saber que o Nani não vai jogar!
Venham daí os adversários, um por um que nós damos cabos deles, nem que seja com a lógica da batata, porque nós queremos é gritar gooolo, queremos ver o CR7 a levantar a camisola para mostrar os abdominais de aço e as garinas da aldeia grande a apanharem uma moca de entusiasmo e a fliparem com as tatuagens do Raúl Meireles.
I got a feeling que, se formos campeões, o Bocage virá à terra compor um soneto escandaloso e o Carlos Queirós será mais aclamado que o Papa Bento XVI.
Na verdade, pá, nós já ganhamos. Pelo menos durante mês e meio iremos cantar, gritar, pinchar, mijar nas calças de tanta emoção, rir, esquecer que temos a querida EDP, a companhia das águas, as tributações, o IVA, todos eles, simpaticamente a darem-nos mais quinze dias para pagarmos antes de levarmos no coiro.
Um aparte: Por que é que certos políticos nunca podiam ser jogadores de futebol? Simples, o Cavaco, porque não passa bola a ninguém. O Paulo Portas, porque mesmo sem golo iria querer festejá-lo saltando para cima dos colegas com sapatadinhas no cu. O Manuel alegre, por não saber qual em que ala se há-de enfiar. O Sócrates, iria criar suspeitas por querer ficar sempre no banco. O Miguel portas, fumaria a relva toda. O Louçã, questionaria se a bola é uma bola ou se é um barco a remos. O Jerónimo, apenas tem a táctica de: quando a direita cansa, a esquerda avança. A Manuela F. Leite? Bem essa, só por causa do menisco!
Deixemo-nos de tretas e vamos mas é lá pegar na vuvuzela e tocar com força, mas cuidado, quem não tiver vuvuzela, nada de pedir emprestado, pois agora que isto está tudo mudado, sabe-se que há para aí uns meninos que a tocam de duas maneiras. Por-tu-gal, por-tu-gal!