Olimpíada de lucros da indústria do tabaco, mais uma vez...
Como transformar a pulsão de morte pela pulsão de vida na luta contra a indústria da morte. Para refletir...
Enquanto a indústria do tabaco comemora o aumento os seus lucros dourados, (com suas inescrupulosas vendas). Os fumantes vão perdendo a competição para chegar aos melhores anos prateados, (de suas encurtadas vidas).
O governo arrecada vorazmente satisfeito mais impostos bronzeados, (com o revés dos custos 3 vezes mais elevados de tantas humanas perdas). E nós nas trincheiras do tratamento não sabemos mais como desatar tantos nós, nauseados (de tantas idas e vindas, recaídas).
Na olimpíada da vida resumida em tabaco, a chama vital não resiste à sina. Com tanta gente jovem ainda pega pelo laço em plena adolescência, a dependência não é só um fenômeno comportamental e genético ...
É acima de tudo, uma questão de ordem antropológica, filosófica, econômica e de prioridade de uma consequente política social. Sem que a arrecadação do imposto da morte anunciada se converta em razão para os espúrios ganhos do capital.
Mudar esta realidade cruel depende de muita pressão, enfrentamento da corrupção e sentido de responsabilidade social. Pois, os danos transcendem à espécie humana, envolvendo questões de natureza ambiental.
Aos recordes da produção e consumo de cigarros; somam-se os recordes de derrames, enfisemas e infartos; e das inúmeras sessões de fisioterapia, oxigenioterapia e angioplastia para os sobreviventes (dependentes agora de um SUS deficitário, cronicamente mal financiado).
O governo devia condecorar a indústria do tabaco, com a medalha de honra ao óbito e à sangria, em homenagem aos males que estes senhores do apocalipse tabágico que promovem nos parcos recursos da saúde.
Com esta arma poderosa que mina e explode lentamente a centelha humana, até o precoce ataúde. Comemorem senhores donos e acionistas em seus suntuosos encontros; muito mais que os aviltantes lucros com seus “negócios”.
Aproveitem para brindar aos seus novos filões de jovens consumidores fisgados, enquanto milhares de fiéis, anônimos e esquecidos fumantes jazem sob palmos de terra onde floresce a erva-daninha nicotiana tabacum sob seus ávidos olhares e corações gélidos.
Pena que inda fiquemos em lamentos; que não ensaiemos uma grande indignação para explodir em vaias a tanta corrupção e malversação, alimento dos jogos olímpicos da morte que estes senhores praticam de forma "legal", sem tormentos, interferindo em todas as esferas do poder público.
Aos 140 mil brasileiros que, a cada ano, são arrastados pela primeira causa mundial de morte evitável; aos 35 milhões que vão, a cada ano, definhando com as incapacidades e lutando contra a dependência inevitável.
Aos 70 presumíveis milhões de passivos fumantes que são atingidos pela fumaça fatal, àqueles que já não podem gritar, então que sejamos nós, que nunca nos deixemos abater ante a omissão, conivência, injustiça e irresponsabilidade social.
Afinal quanto custa uma ponta de cigarro jogado em nossas matas? Quanto custa uma vida ceifada a cada 4 minutos? Quanto imposto do tabaco ainda será arrecadado para remediar a tal falácia da dívida com banqueiros?
Enquanto a dívida com o precário sistema de saúde não dá conta sequer de socorrer os dependentes brasileiros? Enfim, quanto lucro ainda será necessário para a ebulição de nossa ira?
Quando é que se apagará esta chama macabra e se acenderá em nossas mentes e corações, a olímpica pira?
Quando utilizaremos a energia em defesa dos jogos da vida, nos contrapondo às pulsões de morte pelas pulsões de vida?
AjAraújo, o médico e poeta humanista, escrito em agosto de 2007.
Imagem imortalizada no cinema de Ingmar Bergman, em "O Sétimo Selo", partida de xadrez antológica surreal entre o cruzado e a morte.