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A morte do poeta

 
Andando pela rua tropeçou nas nuvens
Bateu com a cabeça num tapete mágico
Equilibrou-se, penso, nessa corda bamba
Sacou seu guarda-chuva já engatilhado
Planou no ar tão denso como se fosse um pássaro
Aproveitando as correntes num balé tão clássico
Desceu rodopiando de volta ao asfalto

Com os pés de volta ao chão se imaginou um cisne
Plumoso e soberano no espelho d água
No leito do seu lago repousado em lágrimas
Gemendo e suspirando pelo pato-feio
Que fora ele, um dia, em meio a tantos raros

Quem dera ter nascido em outro plano trágico
Nas saias da Coroa esse filho pródigo
Bancado à um mecenas que estimula seu estro
Gozando a liberdade que tanto lhe exige
O ócio do ofício que tanto lhe é lógico

E assim viveu, morreu, em meio as pensamentos
Que nunca lhe faltavam mesmo nessas horas
Se imaginou de novo em meio a todo o trânsito
Cabeça sobre o chão e os pés tocando a aurora
Pensando justo o inverso do que fora antes
Deitado no tapete que agora já é seu

Embalado em sono manso em direção ao túnel
Que a luz no fundo brilha tão intensa e impávida
Destino, então, é certo agora não tem volta
Nem mesmo para um cisne de asas tão largas
Que hoje é só mais um em meio a tantos plácidos

Aqui jaz um poeta que viveu tão tarde
Um sonho, um sentimento que já não mais arde
Nem pula, nem palpita nesse peito mole
Só jorra, escorre e desce pelo sangue líquido
Que o ralo suga e junta a tantos outros lixos
Jogados à mercê de um mar tão puro e límpido
De volta, de onde veio, completando o ciclo

Renascerá, quem sabe, ele, em outras páginas...


Mário Piccarelli

 
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Mario Piccarelli
 
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Enviado por Tópico
Paloma Stella
Publicado: 01/08/2007 14:59  Atualizado: 01/08/2007 14:59
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 Re: A morte do poeta
Do poeta que morre,
A alma permanece.
A lembrança resplandece,
Como de lá o sol nasce.

Beijinhos