Poemas : 

o amargo de outras roupas despidas no corpo

 


Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

neste hoje
lembro-me do cheiro de fugir para dentro dos búzios
e ouvir o silencio de outras presenças,
outros grãos vivos,
sinto medos criados a partir do cigarro adormecido nos dedos,
quando penso
na insónia a percorrer todo o corpo
com o mesmo desejo de morrer só.
repito a palavra amor submersa na tempestade.
Amor,
por vezes,
o silencio ri do homem
outras vezes nem o silencio bebe o homem que o produz.
queria ao dobrar da esquina,
sorrir-te.
queria a dobra do teu sorriso ao ver-te.
por hoje ,neste hoje,
o algodão do que a tua pele expele é pesado.
ferida aberta de asco que outrora beijei.
Sinto,
Desprezo de outras madeiras na boca dos seios.
neste hoje,
viro-me ao contrario na cama que também foi tua,
e faço deste avesso do corpo a volta,
a procura da ferocidade dos que calam,
espero que ela me chegue até ti.
Demasiada dor, esta ausência consentida.
Demasiada vida no tempo que foi.
Pensava eu no sossego dos dias,
Na vivacidade da ria formosa.
Mas,
Ao procurar-te o vinho trazia azia,
o amargo de outras roupas despidas no corpo.
Neste hoje,
Queria cuspir em toda filosofia de vida,
Queria fazer uma cicatriz no interior do peito,
Abraçar o homem que esquecemos na praia,
E esconder-me de ti .



 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 14/06/2010 21:08  Atualizado: 14/06/2010 21:08
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Usuário desde: 10/02/2007
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Mensagens: 1199
 o amargo de outras roupas despidas no corpo ao caopoeta
gostei muito do poema, nasceu nele um texto. assim:

não me apetece escrever-lhes hoje, gastar o vão das palavras com gritos e desconforto. percebes que em silêncio se ouve melhor o coração. não me apetece falar-lhes hoje, só esta distância, exacta de ver o mundo e eu a perder-me. o mundo às vezes faz sentido. confesso que é nessa roupa que falas onde se fazem os meus textos. quase sempre só. chega dizer-te que amanhã ainda cá ando, a ler com vontade, a escrever. talvez depois me canse e faça fita, dê a volta à pele e me fique a ver de longe. sabe bem ampliar o corpo até à periferia dos sonhos. sem nexo. ficar só, ali. talvez então a distância procure outros espaços por onde escapar e o corpo anteceda o abraço. por agora não. nem pensar. ninguém me mata mais. agora não. não deixarei perder-me o coração. nem sinal dele. nem de mim. hoje não me apetece. fico aqui. já disse que fico aqui. e não me venham buscar que eu sou teimosa. escondo-me.


um beijo,
mar.


Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 14/06/2010 22:56  Atualizado: 14/06/2010 22:56
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Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: o amargo de outras roupas despidas no corpo
Nesse poema tão seu, a ausência tão doída é como uma 'mão gigante' asfixiando o que quer que seja.

Que coisa boa ler você.

Beijinho.