. façam de conta que eu não estive cá .
não tenho outra memória do teu rosto. esta que guardo há anos, quase gasta pelo uso, é agora um pedaço de papel fotográfico colado na capa de um livro antigo. e na tua boca nascem agora palavras, e é como se ainda pudesse ouvir-te dizer que me amas. o teu corpo move-se para cá da imagem, os teus gestos são a caracterização perfeita de um beijo, e eu fecho os olhos e tu vens. regressas. trazes pássaros na pele, comeram-te na epiderme a falta, o coração está-te do lado de fora do tórax, à espera que as minhas mãos o ressuscitem. olho para ti e sei da minha vida, que todo o tempo foi
à tua espera. abraço então o espaço vazio que vai desde o meu corpo ao livro antigo.