Poemas : 

MDCCXCVII

 

(Casa de infância)

Sou sempre da minha casa,
a casa que ainda sabe
o cheiro com que nasci.
Sou ainda flor de berma,
protegida pelas pedras
seguras e venerandas,
da rua onde passa o frio
do Marão.
Sou ainda inocência,
guardando o branco caiado
da casa da minha infância
num altar:
e ainda hoje ergo os olhos,
quando subo a calçada,
para as janelas rasgadas,
para as ombreiras cansadas
da porta rendida ao tempo,
que me concede a entrada
em tapete de granito
e saudades de outros tempos
em que o amor era lá dentro,
e lá dentro... era o mundo!
Fui duma casa tão grande,
aos meus olhos de menina!
Mas cresci e trago agora,
pra dentro da minha casa,
tanta coisa nos meus olhos,
que me parece pequena,
vista por dentro de mim,
a casa da minha infância!
Mas por fora...
ainda agora,
o tempo passa em respeito
de solene procissão
e se curva à dignidade
da singela inscrição
sobre a porta da entrada:
MDCCXCVII.


"Minha casa, tão velhinha,
É de pedras tão singelas!
Lembro que inda pequenina,
Já sonhava à guarda delas..."


Teresa Teixeira


 
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Sterea
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/06/2010 18:47  Atualizado: 12/06/2010 18:47
 Re: MDCCXXVII
Nunca resisto a um bom poema! Então se fala da infância e da minha gente, do meu abençoado Marão (Do lado de cá vou ser sempre eu a mandar)...
O meu aplauso sincero.
Beijinho


Enviado por Tópico
Runa
Publicado: 12/06/2010 19:49  Atualizado: 12/06/2010 19:49
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Mensagens: 1174
 Re: MDCCXXVII
Fizeste-me recordar também, a casa onde nasci, num típico pátio Lisboeta. A casa ainda existe e é habitada, embora já tenha perto de 100 anos, e dá-me sempre uma grande nostalgia quando passo lá perto. Obrigado por me fazeres recordar.

Grande beijo


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 12/06/2010 20:04  Atualizado: 12/06/2010 20:04
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 Re: MDCCXXVII
Como se trata de saudade, eu não podia faltar,
infelizmente a casa onde nasci já não existe, tão
pouco daqui a nada eu, mas que a sei de cor lá isso sei.

Foi bom voltar lá lendo o teu belo poema.

beijinho
da rosa

Enviado por Tópico
luciusantonius
Publicado: 12/06/2010 21:44  Atualizado: 12/06/2010 21:44
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 Re: MDCCXXVII
Ir à infância é irresistível para mim.
Vou entrar na casa onde nasci. Casa antiga, sem inscrições (se mandasse obrigava a datar as construções). É importante sobretudo por que nela nasci, num tempo em que nascíamos na própria casa (nascimento personalizado). No tempo em que eu era criança aconteceu uma vez (já a casa ia sendo velha), de repente pela manhã começa a chover no travesseiro. Constatamos que terá sido malandrice de um gato lá para as bandas do sótão.
São obviamente densos os sentimentos que me ligam a esta casa.
Quanto ao Marão, que ninguém se atreva a disputar comigo a sua posse romanesca.Vi-o logo que abri os olhos.
Mas não posso esquecer-me do poema que deu origem a estes devaneios infantis.
Está de harmonia com a classe poética da autora.

Um abraço
antonius

Enviado por Tópico
FatinhaMussato
Publicado: 13/06/2010 15:54  Atualizado: 13/06/2010 15:54
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 Re: MDCCXXVII p/ Sterea
Como é bom poder recordar nossa infância, especialmente se ela foi assim tão feliz!
Recordar a casa onde fomos felizes...

Beijinhos carinhosos,

Fatinha.

Enviado por Tópico
rosa-branca
Publicado: 13/06/2010 18:40  Atualizado: 13/06/2010 18:40
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 Re: MDCCXXVII
É linda a minha casinha
E bem perto do Marão
E embora esteja velhinha
Tem dentro saudade minha
E parte do meu coração.

A infância, a nostalgia dos tempos passados... mas como sempre me disseram... nada é eterno só mesmo a saudade. Ela não morre. Parte conosco quando nós partimos. Beijo meu

Enviado por Tópico
elendemoraes
Publicado: 14/06/2010 18:24  Atualizado: 14/06/2010 18:24
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Mensagens: 507
 Re: MDCCXXVII
Oi amiga,
quem não chora, mesmo que pranto sem lágrimas, ao ler teu poema, com cheiro de tempo que ficou lá longe, na curva da nossa vida?

Minhas lágrimas são livres e só espero que não apaguem daqui teu poema...rss

"e ainda hoje ergo os olhos,
quando subo a calçada,
para as janelas rasgadas,
para as ombreiras cansadas
da porta rendida ao tempo,"

Genial!!!

Beijo.

Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 17/06/2010 02:58  Atualizado: 17/06/2010 02:58
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Mensagens: 18598
 Re: MDCCXXVII
Não tem como não se render! Deixo o lugar vago, pois estou de pé aplaudindo. levo, bj