Poemas : 

A arte de ser feliz

 
Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.


Cecília Benevides de Carvalho Meireles
( 07/11/1901 — 09/11/1964)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
Cecília Meireles
 
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Enviado por Tópico
PROTEUS
Publicado: 12/06/2010 15:28  Atualizado: 12/06/2010 15:28
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Mensagens: 3987
 Re: A arte de ser feliz
CENTELHA
Autor: Carlos Henrique Rangel - PROTEUS

A moça o encontrou na beira do lago.
Ele olhava o horizonte fixamente e não a viu se aproximar.
- Senhor, o que aconteceu?

Ele não se virou mas sorriu.

- O dia nasceu. Um pássaro cantou.
Outro pássaro cantou. O vento passou e assustou meus cabelos.
Uma pedra caiu desencadeando uma infinidade de círculos na água.
Um peixe pulou. Um pescador o puxou.
Um rosto sorriu.
Um outro chorou.
Uma vaca mugiu.
Um pássaro voou.
Um filhote piou. Uma mãe acalentou.
Um vendedor apregoou sua mercadoria.
Um lavrador acariciou a terra com seu instrumento de trabalho.
E o Sol pousou sobre minha cabeça me abençoando.

Tudo não é maravilhoso quando os olhos vêem as coisas como elas são?
E o que são?
São pedaços de Deus.
Sorrisos de Deus.
Beijos Divinos...
Só isto basta para começarmos um novo dia.
O som de sua voz em meus ouvidos.
A água refletindo o Sol.
O Sol sobre a Terra.
A terra sob meus pés.
E Deus em toda a parte...

Foi o que aconteceu...