Carta/Dueto
Quando Voltas meu amor?
Fui preso numa prisão onde se aplica a pena de morte, roubei.
Nestes pais de terceiro mundo a pena máxima e única é morte, não matei a fome, mas a sociedade me vai matar para a divida pagar. Quem me dera a mim que eu pagasse a divida em suaves e deliciosas prestações, mas o estado quer a minha vida tirar.•
Falta pouco para eu sair e ir com os nossos falecidos amigos encontrar
(9h00) Ultimo pequeno-almoço
(12H00) A morte esta impaciente
Amor estou com medo vou ser executado as 20h da noite eu estou assustado, os cabrões dos guardas sorriem para mim e me dizem, vais morrer, vais te fuder.
Ironias das ironias hoje pude escolher uma comida mais saborosa, mas será a ultima, comi devagar e pensei no que vou perder, os guardas neste momento olham para o relógio, a morte ronda minha cela a espera para me levar, oiço gargalhadas dos porcos que vão puxar a alavanca para eu ir para o outro mundo.
(15HOO)
OLÁ mais uma vez amor agora vou te pedir uma ultima coisa, se nossos filhos perguntarem onde o pai foi, diz-lhes que foi viajar uma longa viagem, mas estará sempre a olhar por eles, pois eles são tudo, e eu nesta vida não fui nada. Não lhes contes que morri, diz simplesmente vosso pai desapareceu, Diz a tua mãe e pai que peço desculpa por me ter tornado assim e sim eles tinham razão não soube ver o que tinha de bom, matei aquele jovem inocente por causas de 20 euros.
Sinto o coração a acelerar e o tempo esta a contar
(19h00)
Já chamaram o padre e eu me confessei as 18h00 mas por incrível que pareça vi de novo a morte a rondar, de volta de mim e apontar para o relógio.
Respondendo a tua pergunta aonde estou eu estou a umas horas de morrer, e o cabrão do relógio não para, nunca parou, eu não sube ser o homem que sempre sonhaste, agora vou sair da cela para a cadeira eléctrica, promete-me uma coisa procura alguém que te faça feliz,
Pois eu hoje morri!
Ricardo Neves
Tu, o amor da minha vida, que me vais deixar para trás, neste mundo…
(9h00)
Acordei a esta hora, sempre a pensar em ti… No que irei fazer sem ti, como irei conseguir sair à rua, sabendo que quando chegar a casa, os teus braços não vão estar lá, para me abraçar, e os meus lábios nunca mais irão sentir os teus…
(12h00)
Comecei a preparar o almoço para ti e para as crianças… Sim, ainda te preparo o almoço, com esperança de que voltes… Choro, só de pensar que o filho que carrego no ventre nunca conhecerá o pai…
Quando vou a picar a cebola para a salada, corto-me, no dedo, e penso “Era melhor acabar com a minha vida, não ter de passar por todo este sofrimento, e assim, encontrar-te, além…”, mas uma voz pareceu-me sussurrar ao ouvido, dizendo que os meus filhos precisam de mim, então, pouso a faca…
Não te assustes, meu amor, partirás, mas com o perdão, meu e de teus filhos, que disto, nada sabem…
Ao comeres, espero que tenhas saboreado o amor, que eu e teus filhos sentimos por ti… Espero que tenhas apreciado, todas as sensações, todos os sentimentos que em ti despertaram…
(15h00)
Quando teus filhos perguntarem por ti, direi que viajaste, para um sítio melhor, para um sítio onde o estarás a ver (enternecido, espero eu) sempre, para que eles saibam que o pai não os abandonou de vez…
Dizes que não foste nada, mas enganas-te! Foste tudo para mim, o amor com o qual eu sempre sonhei, um marido e pai extremoso, uma luz nas nossas vidas! Para nós, foste tudo! O meu porto de abrigo, Amor…
Meu pai e minha mãe perdoar-te-ão, pois sabem que apenas mataste aquele jovem para garantir que a tua família tivesse algo para comer na mesa… Foste condenado, não por roubo, homicídio, mas por amor à tua família…
(19h00)
O relógio não parou para mim também, Meu Amor, rezei para que cancelassem a execução, chorei em frente do relógio, pedindo misericórdia, suplicando-lhe que parasse, e que te deixasse viver…
Sempre foste o homem com quem eu sonhei, o homem ao qual, no dia do nosso casamento jurei fidelidade eterna, por isso, encontrarei apenas uma pessoa que me faça feliz: TU!•
(20h05)
A esta hora, já foste executado, e eu, peguei em papel e numa caneta, e aqui, junto a mim, deixei outra carta… Uma carta a quem a encontrar…
Agora, tenho uma faca na mão, a mesma faca em que me cortei hoje à tarde… As últimas palavras que escrevo nesta carta, são as últimas que direi:
Vou já ter contigo, Meu Amor…
Inspiração_Estelar
A poesia é a alma, a alma, somos nós, por conseguinte, nós somos poesia...
Gostei muito deste dueto!
Obrigada Rx!