Textos : 

a janela.

 


. façam de conta que eu não estive cá .









a janela estava no lugar de sempre, imposta à parede como um buraco no céu. dentro dela o rosto a pender-lhe para baixo, como uma gota ou uma lágrima que cai. deste lado da observação um indivíduo baixa a cabeça e perde a janela. eu limito-me a observar, foi para isso que me meteram dentro do texto. a janela tinha sido a casa de um outro rosto, que ali passava os dias a chorar uma vida que tinha desaparecido. porque os corpos que desaparecem são mais dificeis de esquecer. eu desconhecia a história deste outro rosto até que o corpo que o havia observado partir mo contou. era o rosto desse corpo que agora ali estava a pender-se na janela, que é neste entretanto a personagem principal. o meu gosto por janelas já tem alguns anos, começou sensivelmente quando vi um corpo cair de uma, corria o ano de mil novecentos e oitenta e sete. vi o corpo de uma criança acabada de nascer cair pela janela do sexto andar do prédio que então observava. um prédio velho, dos que nos contam histórias da cidade inteira. um prédio alto com vista para o mar e para as ilhas. mas esta janela é particularmente interessante. não tem cortinas, permanece aberta, por vezes os vidros abanam com o vento, está pousada numa parede de um branco-sujo questionável e dói-me. é sobretudo por me doer que ainda a obervo. o meu gosto pela dor já tem alguns anos, começou sensivelmente quando vi um corpo cair de uma janela, corria o ano de mil novecentos e oitenta e sete.




 
Autor
Margarete
Autor
 
Texto
Data
Leituras
972
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
TRIGO
Publicado: 11/06/2010 12:51  Atualizado: 11/06/2010 12:52
Colaborador
Usuário desde: 26/01/2009
Localidade: Cabeça-Boa - Torre de Moncorvo
Mensagens: 2325
 Re: a janela.
...
boa tarde mar

a janela estava no lugar de sempre
por vezes os vidros abanam com o vento, está pousada numa parede de um branco-sujo questionável e dói-me


Ler-te, também! E
ainda a um gato que tenho em dois telegramas com os palácios levantados
sobre as dores de Crohn


beijo

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 11/06/2010 17:09  Atualizado: 11/06/2010 17:09
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: a janela. para mar
striking.

em qualquer língua que estivesse escrito.

alex