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Epitáfio

 
De amor.
Ainda ontem era um poema, empobrecido por fazer-se grande; tantas as palavras que se lhe esvaiam, cheirando a urgência, como hemorragia.
Brilho de granito suspenso no ar; sol de neon que o breu mutilou; fornalhas acesas e inconsumíveis, que sustentaram sonhos sem pilares.
De mãos tão severas, da dor artesão; tramou na frieza a sua mortalha: um campo sem fim onde viceja o cinza, o funéreo silêncio que em raiz se propaga, o subterrâneo avesso do sim.

O que ainda ontem era um poema tornou-se epitáfio de fumaça e pó.


 
Autor
Amora
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 08/06/2010 23:45  Atualizado: 08/06/2010 23:45
Membro de honra
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 Re: Epitáfio
na verdade o amor também morre...
mas não deveria, não é?
sempre deslumbrante a tua escrita em qualquer registo.
beijo


Enviado por Tópico
ÔNIX
Publicado: 09/06/2010 00:01  Atualizado: 09/06/2010 00:01
Membro de honra
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Mensagens: 2683
 Re: Epitáfio
Ter o previlégio de te ler, é para mim motivo para não querer mudar nada no meu olhar

e tudo muda
quando a vida
é uma roda viva

e sem volta possível

Gosto de te ler

beijos

Dolores Marques


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 09/06/2010 02:09  Atualizado: 09/06/2010 02:09
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Mensagens: 18598
 Re: Epitáfio
Gostei tanto do que disse aqui, em especial:
o subterrâneo avesso do sim.

Maravilha! beijo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/06/2010 02:17  Atualizado: 09/06/2010 16:49
 Re: Epitáfio
"De amor.
Ainda ontem era um poema, (...) tantas as palavras que se lhe esvaiam, cheirando a urgência, como hemorragia
."

emocionante e resignado no "subterrâneo avesso do fim"

há motivos aqui que não me deixam comentar mais...

beijo e afeto, Dora.

zésilveira


Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 09/06/2010 16:25  Atualizado: 09/06/2010 16:25
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 Re: Epitáfio
O amor transforma-se fumaça, sobe, junta-se as nuvens e cai como chuva regando novos sentimentos, e, flores sobre a lápide.Viajei, Amora! :)
Bjins, Betha.


Enviado por Tópico
AnaMartins
Publicado: 09/06/2010 16:34  Atualizado: 09/06/2010 16:34
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 Re: Epitáfio
Quando o poema-amor vira pó, dele brota o poema-nada o poema-saudade o poema-tristeza...e num ciclo natural o poema-esperança o poema-que-será-será, o poema-paixão e quem diria: eis que nasce novamente o poema-amor...

Um prazer imenso ler-te!
Beijinho!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/06/2010 17:14  Atualizado: 14/06/2010 17:16
 Re: Epitáfio p/ Amora
É. ... *"Tem que morrer prá germinar", plantar nalgum lugar, ressuscitar do chão... é grão!
Tua poesia é grão, cama de tatame, dura caminhada, pela vida afora...
E ainda para citar plagiando Vania e Ibernise, "levo" e "recomendo" rsrsrsrsrs:)

Poeta!
Beijo,
Sandra.

* Grão - de Gilberto Gil