Ensaio: Saúde & Trabalho no Processo Histórico e no Contexto Político do Neoliberalismo
Parte III - Trabalhadores desafiam o controle social da Produção.
Nos anos sessenta, as lutas sociais, especialmente em 68, 69 e 70 (França, Inglaterra, México, Brasil, Argentina), quando os movimentos operários em plena efervescência questionaram o modelo social da produção, quiçá um último momento em que o movimento de trabalhadores fustigou o capital.
Alain Bier, sociólogo francês, marca o questionamento dos operários filhos dos operários da 1ª geração, que não mais aceitaram aquele grande acordo, aquela grande contratação do capital-trabalho-estado que pautou a socialdemocracia.
O questionamento do “welfare state”, a contratação socialdemocrática não é mais aceita, o trabalhador não quer perder a sua vida para ganhá-la.
Afinal, tem sentido perder a vida para ganhá-la?
O que era perder a vida para ganhá-la?
Aceitar a divisão de lucros e de salários, um aumento salarial, desde que os fundamentos da ordem do capital não fossem questionados.
Na primeira geração dos trabalhadores fordistas, os partidos e sindicatos, que representavam, pelo modo socialdemocrático, as classes trabalhadoras pactuaram benefícios sociais com o capital.
A segunda geração que viveu nos anos 68, 69, 70 não mais aceitou este modo de contratação e fustigou o capital. A crise do capital nos anos 70, com a tendência decrescente da taxa de lucro, o fordismo era a expressão desta crise, estrutural de fundo.
Porém o capital responde, pelo modo capitalista, com a chamada “reestruturação produtiva”.
No plano político ideológico, com um ideário, um projeto político nefasto, conservador, ou o neoliberalismo.
Inicialmente desenhado sob a égide dos governos Tatcher na Inglaterra e de Reagan nos EUA, depois se firmou, nos principais países capitalistas da Europa.
Na França, Mitterrand fala nos palanques em rés pública e termina seu mandato em rés privado.
Felipe Gonzalez, presidente do PSOE, que de socialista e operário só tinha o nome.
No Brasil, FHC cumpriu à risca a nova doutrina, privatizando em um curto período mais empresas do que a “dama de ferro” inglesa.
Assim, sucessivamente, vários governos social-democratas ascenderam ao poder nos anos 80, com um projeto reformista e uma pragmática muito parecida com o neoliberalismo.
No Brasil, FHC cumpriu à risca a nova doutrina, privatizando em um curto período mais empresas do que a “dama de ferro” inglesa, restringindo direitos, reformando a carta magna e injetando recursos públicos no sistema financeiro.
Afinal, qual o valor do trabalho, na sociedade moderna?
Segue nas partes IV a VII.
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AjAraújo (Alberto José de Araújo), MD do Trabalho
Doutor em Ciências em Engenharia de Produção
COPPE/UFRJ.
Obras Consultadas:
1. Bartholo JR., RS Os Labirintos do Silêncio. Ed. Marco Zero Ltda. 1986.
2. Sodré, N W. A Farsa do Neoliberalismo. 6ª Edição. 1999. Graphia.
3. Mendes, R. Patologia do Trabalho. Atheneu. 1996.
4. Dejours, C. A banalização da injustiça social. Editora da FGV. 1999.
5. Antunes, R. Os Sentidos do Trabalho. Boitempo Editorial, 1999.