Paulo Monteiro
Quando o administrador do Projeto Passo Fundo convidou-me para publicar o livro eu resisti também cantando, com poemas inéditos, contra-argumentei propondo a edição de uma coletânea de artigos sobre temas históricos e culturais. Assim surgiu este O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas.
Os textos são praticamente os mesmos dados à letra de forma originalmente na imprensa, e depois divulgados em diversos sítios da Internet. Para a reunião em volume, porém, aprimorei as referências bibliográficas, procurando favorecer os leitores que desejarem se aprofundar nos temas tratados.
Sou, assim, extremamente grato a Saul Spinelli, diretor do extinto jornal O Cidadão, às jornalistas Geneci Carlot de Quadros e Joice Carlot, responsáveis pelo Jornal Rotta, à direção e colegas da Fundação Cultural Planalto, em particular da Revista Somando, aos sítios Projeto Passo Fundo, Luso Poemas, World Art Friends, Café História, O Melhor da Web, Verso e Prosa e tantos outros que acolhem meus escritos.
O caráter jornalístico, que não quer dizer apressado, é responsável por algumas repetições ao longo deste livro. A História é uma corrente de fatos, e não um fio retilíneo.
Tenho dito à saciedade: sou, fundamentalmente, um publicista, o que, no melhor vernáculo, significa aquele tipo de escritor que alguns tradutores versam “intelectuais públicos”. Escrevo para ser lido – e entendido. E com os clássicos da Língua Portuguesa aprendi que se pontua como se fala porque a fala é anterior à escrita.
Escrever, para mim, é um ato vital.
Defensor da escrita fonética, optei por não seguir as recentes alterações ortográficas.
O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas é uma pequena mostra de minha produção historiográfica. O amor à História se iniciou quando eu tinha treze anos e estudava na Escola Estadual Joaquim Fagundes dos Reis em Passo Fundo. Minha professora de Língua Portuguesa, Zilka Neff Rosa, solicitou colaboração para o jornal mimeografado da Escola. Apresentei um poema sobre Passo Fundo. Em certa passagem eu rimava as palavras “ruas” e “charruas”. Dona Zilka me chamou, explicou-me que os charruas não habitavam Passo Fundo, que aqui viviam guaranis e tapes, falou-me sobre licença poética. Depois de uma boa conversa acabou me sugerindo ler um dicionário de versificação e o livro “Passo Fundo das Missões”, de Jorge Edete Cafruni. Li os dois livros e apaixonei-me pela Poesia e a História, que não larguei mais. Por isso, uma das pessoas a que dedico esse livro é Dona Zilka.
Nesses quarenta e dois anos li milhares de livros, escrevi centenas de artigos sobre temas culturais e históricos. Acumulei material suficiente para publicar algumas dezenas de livros, mas dei apenas três a lume.
Aprendi com os grande humanistas que o historiador tem a obrigação de dizer a verdade ou, pelo menos, aquilo que considera a verdade. Por isso, não tenho qualquer condescendência com as chamadas personagens maiores da História.
Tenho um interesse particular no estudo das revoluções rio-grandenses. Na verdade, o que eu quero é entender essa questão da valentia gaúcha. Isso me levou a concluir algumas coisas que me parecem terríveis e que estão com todas as letras em diversas passagens do livro.
Durante milhares de anos a História, a exemplo da Filosofia, ficou reduzida à condição de simples escrava da Filosofia.
Os líderes das principais civilizações passaram à História na condição de verdadeiros semideuses. Apenas com Voltaire, em 1756, com o Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, a História passou a ser considera como criação humana. Entretanto, especialmente em termos de história local e regional, os líderes são considerados representantes divinos.
Como afirmou recentemente o ministro Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal: “Há quem chegue às maiores alturas só para fazer as maiores baixezas”. Por isso é que sigo a lição do velho Jules Michelet: “O historiador, que é o juiz do mundo, tem por primeira obrigação perder o respeito…”
Não sou condescendente com as baixezas daqueles que chegam às alturas. A maioria dos historiadores, em especial os que escrevem sobre a história local e regional, não passam de ficcionistas incapazes de compor uma quadrinha de pé quebrado. Há pessoas que, pensando serem historiadores, entoam loas aos abutres.
Para mim, em seu maior número, as páginas de nossas revoluções, como de todas as revoluções pampianas, foram escritas com sangue e vergonha. E as páginas que a História reserva para os matadores em série e outros degenerados são o melhor lugar para alguns semideuses gaúchos.
No meu entendimento, a história da caudilhagem é uma sucessão imensurável de roubos, latrocínios, estupros e massacres. E é insustentável o argumento de que os caudilhos devem ser julgados segundo o ambiente em que viveram. Aceitá-lo seria negar que até mesmo leis ancestrais como o Código de Hamurabi ao Decálogo Bíblico, sempre reconheceram as práticas caudilhescas como crimes dos mais graves que alguém poderia cometer; aceitá-lo seria admitir a vontade de cada um como única e universal norma de Direito.
Apresento muitos desses crimes em O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas, como a matança dos lanceiros negros a 14 de novembro de 1844, justamente às vésperas de Antonio Vicente da Fontoura, seguir para o Rio de Janeiro como representante dos farroupilhas. para acertar a paz com o Império.
Assim, gostaria de contar com o comparecimento de todos os interessados no estudo da História, no lançamento do livro, dia 16 de junho de 2010 (quarta-feira), às 19 horas, tendo como local o auditório da Academia (Av. Brasil Oeste, 792), em Passo Fundo. Na oportunidade, receberei a generosa e ilustrada contribuição de diversos amigos, como os historiadores Adelar e Setembrino Dal Bosco, o psicólogo clínico, poeta e pensador Getúlio Vargas Zauza, que já confirmaram suas presenças, para discutirmos os temas tratados nas “linhas e entrelinhas” do livro.
A capa de O Massacre de Porongos & Outras Histórias Gaúchas é arte de Everaldo Siqueira. Reproduz os lanceiros farroupilhas (do quadro Carga de Cavalaria, de Guilherme Litran, acervo do Museu Júlio de Castilhos), sobre fotografia de Paula Tatsuia Machado Monteiro, retratando trecho da Rua Teixeira Soares, entre as ruas Paissandu e Uruguai, onde existia uma casa de Manoel José das Neves (Cabo Neves) que serviu de quartel às diversas forças imperiais e republicanas, que passaram por Passo Fundo, durante a Revolução Farroupilha. Ali também acamparam muitos dos lanceiros negros massacrados no Cerro de Porongos. (Passo Fundo, 30 de maio de 2010).
O livro pode ser adquirido através de www.projetopassofundo.com.br
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos