Há sede em cada lado da minha noite,
difusa e imperceptível,
uma serena com fome de lua,
outra em busca do tempo de ser dia.
No tempo da lua que nascia para todos
uma não existiria,
hoje coexistem as duas
em amplexos de luxúria sempre separados,
uma lua real que nasce do lado de lá do mar,
outra aparente travestida de sol regenerador.
Ajoelho-me penitente perante a primeira,
ufano-me de imortal em presença da segunda.
Na lua que se esconde e reaparece
em função dos humores
sinto-me grão de areia em perpétuo movimento.
Na lua que me nasce
em pleno dia de sol abrasador
sou Zeus da intempérie,
Apolo, dono do sol e da luz da verdade,
plano indiferente,
sonho irreal…
nunca sei qual escolher,
se um me soa como o martelo do real,
outro é para mim a trombeta da liberdade,
bigorna do meu querer…