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Desabafo de Agosto

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
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Escorre réstia de luz no mar
Na calmaria da praia Vermelha
Um ébrio vagar esconde a ira,
Desferida num templo comum.

Onde a vida se esconde sob
O véu da morte vivida.
E vislumbra num doce cantar
O murmúrio do Senhor,

E a paz virá daquele que
Nos deixou a rolar lágrimas...
Que no frescor da noite vive
Sobrevive uma vontade de aço

De fazer do simples lito,
Um grão fino de areia
Se mova na brisa e me revele
A visão do nada do momento...

O mar quase estático,
Inerte de marés,
Da distante música,
De pescadores a velejar,

De cantorias em saveiros,
De buscas, encontros
De partidas, despedidas
De perdas e ganhos.

E tudo corre com a silente
Voz nostálgica do universo
Em tudo quanto há de ser
Naquilo que se anuncia

No próximo despertar,
Pegadas na praia, corpo trêmulo,
Sôfrega alma, tanta ânsia de vencer,
Mas teme perder o leme da vida...

Já não se ouve mais
Aquelas melodias febris,
Que adornavam as ilusões pueris,
De um canto juvenil, tão pueril.

E correm soltas as palavras,
Folhas ao vento, já não ressoam,
No triste elo perdido do viver.
Tudo está tão disperso...

Buscar, querer se encontrar
Descer ao fundo do poço,
Pantanoso campo, íntima escuridão...
Ínfima, entre “id e ego”...

Para despertar de um pesadelo,
E atravessar a ponte que une
De um lado, fantasia e emoção,
De outro, realidade e razão...

AjAraújo, o poeta humanista, escrito na década de 70, durante os duros anos da ditadura.

Imagem: Nascer do sol na praia Vermelhan a Urca - RJ.
 
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AjAraujo
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