Fiz-me acompanhar durante algum tempo, de um filtro semitransparente que desfigurava o mundo numa escala de cores reduzida. Tudo parecia cinzento tudo parecia igual, cenários exteriores com contrastes esbatidos na banalidade. Por muito que limpasse a vista e fosse ao oftalmologista, a baixa definição exterior asfixiava. Depois de um refúgio interior, onde tudo era igualmente cinzento, comecei a pintar, remodelei o interior, indeciso entre os tons escuros, optei por utilizar cores diferentes das que me acompanhavam, permitiu um aconchego confortável. A surpresa aconteceu, quando o filtro escuro, passara inexplicavelmente a colorido. Passei a ver o mundo, com cores surpreendentemente agradáveis, tudo me parecia mais bonito, já não suportava um mundo tão cinzento. O nada passou a tudo, viver cá fora, passou a ser suportável, o detalhe a nitidez a percepção das reacções dos outros. Aprendi a viver na comunhão do tudo que me envolve. Os encadeamentos das acções, desdobram-se em interacções fascinantes, como que atiradas ao rio, ondas causadas pelo impacto, subtis e definidas na espuma dos acontecimentos, influenciando o presente e o futuro. Abracei tudo, incapaz de o conter na minha limitação sai mais para fora passei a permanecer mais exposto ao exterior. A interacção com Tudo, faz-me adormecer a duvida, necessito espaço para conter mais Tudo, optei por libertar o meu espaço precioso, libertei-me então de Nada.
Todos os dias temos que colorir a nossa visão... E pensar que o cinzento, não é cinzento... é a cor que lhe queiramos dar. Extravasa, deixa fluir, dá asas... Sentir-te-às como uma pena...