A noite desce devagar, entranhando-se no meu silêncio...a minha mão anoitece nas letras que escrevo...meus olhos sem luz estão cansados, o papel onde escrevo é negro, como os pensamentos que me guiam a mão...procurando letras de ternura que não sei escrever...estou morta...os meus sentidos morreram...num espaço deserto, no limite do céu...na mortalha feita de nuvens da minha ilusão, no meu corpo envelhecido pelo tempo....amargo no silêncio eterno...um instante apenas onde meu coração escuta o silêncio do sepulcro...num deserto onde houve flores...derradeiras pétalas que tombam, sobre o que sobrou de mim...nas sombras que caminham na obscuridade...há uma ternura breve...depois o nada...a treva...o abandono de mim.
No esgotamento final...tão longo...tão doloroso, num grito de dor, raiando o horizonte onde o sol escurece, no meu corpo por amanhecer, como um fogo de ruína...restos de um incêndio...terra morta num tempo de aridez, na noite que me devasta, na infínitude do destino...na obscura condenação do vazio...nos recantos da sombra...onde fiquei só...nos meus sonhos...no limite do silêncio...nos sons breves de palavras, que estremecem na noite...sem destino, nas memórias antigas...apodrecidas, desfazendo-se em cinza, numa nudez gelada...chorando o meu corpo...em desespero...no limiar do tempo...nos olhos do passado...afundo-me na escuridão sem fim, onde escorre meu sofrimento, no espaço vazio do TU e EU, infinito morto em mim...na memória cansada, como espelho embaciado...a olhar a vida...uma imagem no silêncio...no céu que escurece...na sucessão dos dias...na angustia deste vazio...onde o passado e o presente choram em mim...na tristeza dos meus olhos, vestidos de Outono, vagando na melancolia...são escárnio do meu silêncio...memória da minha loucura, na sombra do tempo que morreu, na nostalgia da eternidade.