De um pouco de cimento
lágrima e sofrimento
minha casa pode deixar de ser vento.
Andando pendurado no trem
tentando escapar de ser manchete
num tombo de repente,
vou juntando alguns trocados possíveis
neste trabalho nunca gratificado.
Mesmo com a marmita cheia de areia
vou teimando na tentativa
de ter minha casa protegida do vento.
De um pouco de cimento
lágrima e sofrimento
vou tentando iludir minha dívida
com um número que cresce
na proporção de minha descrença
em ter uma casa
em vez de várias crianças famintas.
* Série de Poemas manuscritos nos anos 70, período da ditadura militar no Brasil, por um jovem poeta Anônimo.