Poemas : 

segunda-feira

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


segunda-feira. o despertador alerta-me para a realidade. levanto o corpo duma cama que me guarda todos os sonhos ainda por realizar. mas a alma. essa. fica de guarda ao que resta dos meus desejos. fica misturada com a roupa suada das noites loucas de amor que sempre faço com o pensamento – o sol desponta. as gaivotas planam por um tempo sempre igual. o mar vai e vem sem lamentos – ponho a cama de pé. encosto-a a uma parede inclinada que sustenta o quadro de um artista desconhecido – a cadeira. que serve de assento às ideias. guardo-a dentro do guarda-vestidos – é valiosa. é aqui que descanso a vontade de escrever – meti-a entre uma camisa branca e um par de calças pretas. roupa que estimo – um dia. com uma gravata preta farão comigo a viagem eterna – do outro lado. virada para a janela que espreita o sul. o toucador – tem em cima de si um espelho baço que aguenta toda a minha debilidade. mesmo aquela que nem os amigos vêem – um dia perguntei-lhes se gostariam de saber mais do outro que existe dentro de mim. não ouviram – não acreditam que dentro de um olhar assenta outro olhar – apenas as gaivotas nos seus voos matinais recordam as noites que choro com os seus guinchos agudos. é a sua forma de dizerem que ouviram as lágrimas a tombar – este espelho. comprado numa feira de diversões a um anão que queria ser grande. é capaz de saber ler em cada lágrima a dor que emerge da procura do destino incerto. do destino vestido de sangue. do destino talhado para o sofrimento – mas hoje. à sua frente cerrarei a dor. apenas esticarei o cabelo com um pente de palavras finas. estavam guardadas para uma altura especial. talvez em soneto. em prosa. talvez um poema com rima cruzada - mas não. é segunda-feira. preciso de colocar risco ao lado. preciso de estar bonito. o trabalho diz-me que quer um homem sério. capaz de alimentar o mundo. por isso antes de sair de casa perguntei ao meu espelho se estava bonito. disse-me que a camisa estava amarrotada. e mandou-me deitar um pouco de after shave. old spice – sei que traz água do mar verdadeira. nele. ouço as gaivotas a trabalhar num mar que também é meu – fazem o seu trabalho para sobreviver. também eu o farei
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
Dakini
Publicado: 01/06/2010 11:52  Atualizado: 01/06/2010 11:52
Da casa!
Usuário desde: 24/03/2010
Localidade: Espaço reduzido
Mensagens: 338
 Re: segunda-feira
Apesar de ser já terça-feira, não me foi nada difícil recuar, para este dia que me traz algumas cenas reais (também a mim), guardadas num reservatório de últimos dias, qual vestimenta retirada de um baú, mas apedrejada pelo vento

Texto que adorei ler

Bjs


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 01/06/2010 11:59  Atualizado: 01/06/2010 11:59
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Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
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 Re: segunda-feira para sampaiorego
sobreviver. e conseguir ainda viver de vez em quando apesar de tudo,mortes à parte.

fazem-se homens e mulheres ao mar, de corpo e alma,todos os dias.alguns têm asas.

abraço


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 01/06/2010 16:54  Atualizado: 01/06/2010 16:54
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 segunda-feira ao sampaio(r)ego
"regresso ao lugar que encontrou o repouso
no meu corpo: a morte é uma terra inacabada:
há ainda por lavrar o campo pedregoso onde os lagartos
consomem o dia com a sua eternidade: sobre as pedras
desenham o calor, a áspera fuga que desorienta os passos;
regresso ao lugar da renúncia: aqui, o início é um momento
do desencontro, e os cardos têm nas folhas a secura
que o vento torna vulto, aqui, nem a ruína ergue a casa
para sua habitação, nem há recanto que não cresça
na trepadeira do pó. E cada pessoa é uma sombra
onde culmina um nome rasurado. Aqui, a ave
é um traço de cegueira, a noite de um golpe
que separa os dois gumes do silêncio"

rui nunes.


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 03/04/2013 00:49  Atualizado: 03/04/2013 00:49
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Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: segunda-feira
e o rascunho da vida navega no teto... sem
ao menos perguntar se doía. saudades. bjs