- Enfim chegaste, estranho Destino!
Vieste, finalmente , tirar-me deste verso alexandrino?
- Não, vim falar-te claramente
de que ainda não irás morrer serenamente.
- Que queres comigo? Direito nem tenho eu de partir?
Olha só que nada restou-me nesta vida p`ra eu sorrir.
- Deve aprender que não és dono de teu sorriso ou sentir.
Tens ainda muitas tarefas que deves cumprir.
- Destino, eu vos imploro! Sede piedoso
e tirai minha alma deste lugar doloroso.
- Se estás ainda nesta planície,
é que talvez deverás ser punida até à velhice.
- Que farei eu para suportar
todas as angústias deste lugar?
- Deve simplesmente seguir em frente
sem pensar que estás só em meio a toda esta gente.
- Mas como solidão não aqui sentir
se em meu peito há um buraco que nada o faz encobrir?
- Se sentes o punhal é que o podes suportar,
portanto levanta a cabeça e segue teu caminhar.
- E se acaso desta jornada eu desistir,
alguém poderá me impedir de fugir?
- Não, ninguém poderá tal ato fazer,
pois és livre para teus caminhos escolher.
- Então deixa-me seguir rumo à cova afinal
e libertai-me–ei desta dor infernal.
- Não entendes que jamais poderás deste amargor separar,
mesmo que encovado o teu corpo se encontrar?
- Que me dizes, Destino?
Acaso estou condenada em qualquer caminho?
- Abranda um pouco teu cansaço,
eis que venho oferecer-te meu abraço.
- Pensei que foste sempre meu inimigo,
mas mostra-te nesta hora como um bondoso amigo.
- Comovido fiquei com esta amargura em teu ser
e tudo que posso é um braço amigo te oferecer.
- Agradeço-te e até me esquecerei do que me fizeste no passado fazer,
mas, quando fores embora, esta dor continuará a me enlouquecer.
- Precisa ser forte, pois um longo caminho ainda te espera
e o sono amigo ainda não faz parte de tua era.
- Sinto-me fraca... a desfalecer...
e não vislumbro nenhuma luz a me acolher.
- Tem a te acostumar com a escuridão total.
Caminharás às cegas, guiada somente pelo instinto Floral.
- Como poderei das armadilhas desvencilhar,
se somente sombras irão me guiar?
- Encontrarás uma forma de te orientar
até que descanses finalmente em além –mar.
- Em alguns momentos, justo inimigo,
poderás socorrer-me em algum abrigo?
- Temo que não poderás com mais nada contar,
pois que a estrada agora é ainda mais estreita que teu sonhar.
- Acho, sincero amigo, que deste seguir ferino,
irei abreviar a parte final de meu destino.
- Não tens o direito da morte forçar,
pois dor por dor que aguente esse amargurar.
- Seguirei até a última força extinguir,
renderei-me então para jamais em vida acidentemente ressurgir.
- Esperar-te-ei nessa hora
para condecorar-te com a dor dos vivos
ou condenar-te pelos atos de outrora.