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centrifugação

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


é sábado e as gaivotas perfilam-se para lá do meu horizonte. talvez queiram outro mar. talvez outro universo. talvez tenham deixado de acreditar neste mundo cónico. talvez estejam cansadas de me ouvir. talvez… talvez … – hoje só tenho uma pequena janela para deixar cair a alma ao vento – nem alta está. está presa a uma torre de sonhos que rasteja por um chão que todos os dias me engole para alimentar os seus vulcões – é sábado. quero encontrar um vento de feição. um vento que leve esta alma de navegador de sonhos para lá desta conflitualidade de homens que não me querem assim: nu por ser sábado. nu por tentar descansar. nu porque não tenho mais nada para escrever com roupa – quero encontrar também eu um mar com ventos em remoinho. quero poder subir em espiral até ao topo. centrifugar. agregar cada parte diferente dos meus eus e acreditar que nesta mistura de novos átomos possa nascer o sonho que deixou de o ser – a realidade – esta. de tão imaginada será devota a esta nova oportunidade – qual fantasma de ópera. sou agora largado ao mundo das gaivotas. e de uma pena manchada de branco pelo sal do mar. sou agora uma nova aberração. sou o homem-pássaro. livre da dor – sei que voarei apenas um dia e que pelo próprio vento tombarei – não tenho asas que me levem para lá da nuvem que encerra o meu sonho. sei que capitularei. o peso dos meus sonhos sempre me arrastará para uma terra que nunca senti como minha – mas não tive esta dor maldita. mesmo que tenha sido apenas num dia de voo ao vento sul. fui livre. como neste texto
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
JBMendes
Publicado: 30/05/2010 16:50  Atualizado: 30/05/2010 16:50
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 Re: centrifugação
Amigo Sampaio - Li seu texto, belo cheio de eventos poéticos que nos emtercm, como as gaivotas, os ceanos certa vontade de dormir dentro do travesseiro...
Um abraçço fraterno
JBMendes


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 30/05/2010 19:26  Atualizado: 30/05/2010 19:26
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 centrifugação ao sampaio(r)ego
o mar sempre lá esteve, sempre lá está, mesmo quando as gaivotas o abandonam para irem tomar conta do teu corpo. gosto de te olhar deste lado, mais a sul. gosto de te olhar quando erguemos o coração e vimos para além da pele. estás ferido como eu e fico triste. gostava de ser mulher-asa.

centrifugar, capitular é tão bom.

um beijo,
mar.






Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 31/05/2010 00:02  Atualizado: 31/05/2010 00:02
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 Re: centrifugação para sampaiorego
eu engoli uma golfada de ar e voei numa espiral de...entre outras coisas,liberdade.

excelente experiência de leitura que me proporcionaste.obrigada.

beijo

alex