Os irregulares amparos de tijolo de burro coberto de cataplasmas de cimento areado, revestem-se de finas vestes sobrepostas de cal.
Nas soleiras, os pacatos viventes sentam-se nos degraus, olhando para além, entre as rugas e o chapéu manchado pelo suor, filho dos dias de canícula. São longos os seus olhares. Arrastam-se para lá das searas.
Atiram-se latidos, das gargantas dos cães, para o meio da rua quando passa alguém que lhes é simpático e, por vezes, rosnados arreganhados aos carteiros... gente de más notícias em terra pouco cheia. São as contas e outras que tais. Os bichos até parece que sabem.
O chito é sovado pela perícia dos atiradores, gaiatolas já na terceira vida... “Chega-lhe que é pró tinto daqui a nada!”.
O tanque está cheio de lavadeiras de mãos rijas. É do sabão azul e da esfrega. Coisa de guerra diária que nunca acaba. Se acabasse, ai se acabasse, acabava o mundo.
A carreira passa duas vezes por dia. Para lá e para cá. É como o guarda que nunca viu um delinquente e nunca multou ninguém. Não se multam os parceiros das idas à caça.
Anoitece e os irregulares amparos de tijolo de burro coberto de cataplasmas de cimento areado, que se revestem de finas vestes sobrepostas de cal, continuam em cima do chão... irredutíveis, à espera que a barragem encha. As gentes, essas, ou morrem ou vão para os pré-fabricados que lhes puseram para lá dos longos olhares.
É assim a vida, que lá vai vivendo das memórias contadas.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.