Na curva do convento,
Entre o céu e o mar,
Meus olhos silenciosos,
Esgaravatam o prazer do teu sentir,
Devorando o azul do teu olhar,
O conjecturar da tua alma, o voar do teu ser.
O cheiro inebriante da calma serrania,
O ventar suave, movimentado a energia densa no ar,
Que se moldava em volta do teu corpo de entrega.
Sonhando,
Teus sentires consumiram-se,
Rescrevendo os teus desejos,
Na memória do poeta,
Que despertou marés de águas vivas,
Beijos suados de prazer,
Abraçando o entardecer,
Nas escarpas da sacra montanha,
Agora trajada de raios dourados.
Acreditando,
Ele abriu seus braços aos ventos,
De palmas dobradas ao céu,
Apoderando-se da força da aragem,
Soltou promessas autênticas,
Invocando as assistências congénitas,
Concedidas pelas árvores da vida.
Já tarde, no crepúsculo do dia,
Que não ambicionava acabado,
Contemplou o horizonte,
Até onde o mar se funde com o céu,
Sentindo o cheiro das algas,
O levitar dos golfinhos,
A quietude do porto silencioso,
Submergiu nesse teu olhar terno e imenso,
Que é o prolongamento do próprio mar.
Eduardo Jorge, em 15 de Janeiro de 2009