Duetos : 

a última estrela na cauda da Cassiopeia

 
Tags:  marguerete;caopoeta  
 


Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

esta noite se puderes. morreremos felizes. os braços entalados no pescoço, o cérebro vazio. nasceremos amanhã sem memória de outros dias. só este, em que me conheço no teu rosto. só este. finalmente estar quieto, parar de doer, também, deixar-me. trago um coração ao lado, espera, os vasos dilatados, sangue, grito, se não me comovesse assim o mundo, se nada me prendesse onde não estás. é este silêncio a entreabrir a boca e sentir o beijo. partir a alma com a tua voz, reconstrui-la nos lábios. resgatar a tua imagem, agora, abrir o peito, deslocar o coração. quero morrer contigo rente ao céu, fazer de ti a última estrela na cauda da Cassiopeia. adormecer então os dedos de chuva, em paz. não sei, de que falas quando estás vazio, quando te arrefeces, que distância faz entre os meus sonhos e os teus, de que saudade teces essa nostalgia. queria para ti uma terra nova, onde tulipas te segurassem a expressão feliz, onde não haveria espaço para ervas daninhas e urtigas. queria para ti um lugar nosso, tirar a casa do bolso.

 
Autor
Caopoeta
Autor
 
Texto
Data
Leituras
961
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 01/06/2010 16:38  Atualizado: 01/06/2010 16:38
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 a última estrela na cauda da Cassiopeia ao caopoeta
fez-me lembrar a claridade dada pelo tempo do
mário-henrique leiria:


"Deixa-me sentar numa nuvem
a mais alta
e dar pontapés na Lua
que era como eu devia ter vivido
a vida toda
dar pontapés
até sentir um tal cansaço nas pernas
que elas pudessem voar
mas não é possível
que tenho tonturas e quando
olho para baixo
vejo sempre planícies muito brancas
intermináveis
povoadas por uma enorme quantidade
de sombras
dá-me um cão ou uma bola
ou qualquer coisa que eu possa olhar
dá-me os teus braços exaustivamente
longos
dá-me o sono que me pediste uma vez
e que transformaste apenas para
teu prazer
nos nossos encontros e nos nossos
dias perdidos e achados logo em
seguida
depois de terem passado
por uma ponte feita por nós dois
em qualquer sítio me serve
encontrar o teu cabelo
em qualquer lugar me bastam
os teus olhos
porque
sentado numa nuvem
na lua
ou em qualquer precipício
eu sei
que as minhas pernas
feitas pássaros
voam para ti
e as tonturas que a planície me dá
são feitas por nós
de propósito
para irritar aqueles que não sabem
subir e descer as montanhas geladas
são feitas por nós
para nunca nos esquecermos
da beleza dum corpo
cintilando fulgurantemente
para nunca nos esquecermos
do abraço que nos foi dado
por um braço desconhecido
nós sabemos
tu e eu
que depois de tudo
apenas existem os nossos corpos
rutilantes
até se perderem no
limite do olhar
dá-me um cigarro
mesmo que seja só um
já me basta
desde que seja dado por ti
mas não me leves
não me tires
as tonturas que eu teria
que eu terei
sempre que penso cá de cima
duma altura vertiginosa
onde a própria águia
nada mais é que um minúsculo
objecto perdido
onde a nuvem
mais alta de todas
se agasalha como um cão de caça
leva-me a recordação
apenas a recordação
da vida martelada
que em mim tem ficado
como herança dada há mil e
duzentos anos

deixa que eu fique
muito afastado
silencioso
e único
no alto daquela nuvem
que escolhi
ainda antes de existir"