Risco os sonhos, sonhando
Risco saudades, partidas
Sem lápis eu vou riscando
As mágoas da minha vida.
No meu destino, sem norte
Neste caderno sem par
Eu traçei a minha sorte
Nas linhas do meu penar.
Eu dissolvi a amargura
No rio, na água corrente
Tento fazer de mim gente
Plantando na alma ternura.
P'ró cimo d'uma colina
Atirei o meu olhar
Joguei os sonhos no ar
E voltei a ser menina.
Quem pensa que leva sempre
A água ao seu moínho
Esquece que a água corrente
Também fica p'lo caminho.
Mói o trigo, faz farinha
O moínho sempre a rodar
Assim roda a minha vida
Á volta do meu penar.
Passaram os dias, loucura
Não vi o tempo a passar
Agora eu ando à procura
Dos dias para contar.
Cai a chuva miudinha
Vai caindo até mais não
P'ra lavar a alma minha
Em lágrimas de solidão.