Um mar, um mar, um mar,
reza por mim oceano,
dá-me velado às encostas más,
maresia agreste, levante no vento norte,
que jaz em mim, choroso na palha que arde lenta.
Mói-me na ceifa, no moinho da dor malvada.
Brilha no fulgor ardente da manhã negra.
Agora que no horizonte o crepúsculo me beija,
e na cinzenta madrugada me oculto.
Sou cego na visão quente da nuvem parda que teima em passar,
a minha visão fica nublada,
ensurdeço-me com o grito abafado da chuva.
Vem, leva-me para longe,
o mar vermelho já foi engolido pela esfera do sol.
Sou um sentimento cru, nascido de incensos violados,
uma pedra inerte, sôfrega pelas mãos calejadas e cansadas.
Abre-me o céu-da-boca com a tua luta,
faz-me insano pelo gesto de te querer demais.
Um amor, uma maresia, são duas alegrias que já não tenho.
Perdi-me nas névoas do coração,
ele, apenas ele, me conhece tão bem.