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Voltar a viver.

 
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Porta fechada


Depois que a porta se fechou eu ainda permaneci calada do lado de fora por alguns segundos eu creio. Netas horas nada é preciso, tudo tem uma proporção enorme e exagerada de dor e vazio.
Procurei não respirar por um tempo para ouvir o seu coração do lado de dentro, mas tudo que ouvi foi meu coração acelerado chorar num compasso melancólico.
Desci o primeiro degrau da minha derrota de costas com os olhos fixos na porta fechada. Outros degraus eu desci de lado agarrada ao corrimão da escada com medo de dar as costas ao homem que me jurou amizade eterna.
Depois do terceiro degrau só vi escuridão e podia ouvir risos de deboches e palavras de afronta a minha pessoa por ter sido enganada por todo este tempo.
Nada fazia sentido para mim, ontem jurávamos amor eterno, cumplicidades e éramos felizes nos momentos criados para nossa fuga prazeres. Hoje sua voz gritava e não me deu tempo de justificar e nem pedir para ficar.


Um corpo sem vida.

As vozes pararam de gritar, mas eu via as bocas se moverem. Meu corpo estava ali caído no chão como sem vida. Eu flutuava acima de mim mesmo aos pés do corpo caído. Olhei novamente para cima procurando você e a porta permanecia fechada.
Tentei tocar em alguém e pedir que me ajudasse, mas nada podia fazer por mim. Subi as escadas da vida correndo e parei diante da sua porta fechada, não bati, não gritei nada fiz, apenas tentei ouvi-lo.
Se tudo que me disse fosse verdade eu ia ouvir seu pranto lá dentro, esta despedida dolorida tinha que doer mais em você do que em mim.
Sempre foi tão gentil, tão senhor de si mesmo e de seus atos, só poderia está me afastando do que pensava ser um perigo para mim.
Até sua despedida foi educada e senti um medo em suas palavras de me magoar, bateu a porta sem me ouvir, jamais seria adeus se me ouvisse e sabia bem disto.
É isto! Ele me ama tanto que preferiu me perder a me machucar. Mas agora meu corpo está sem vida lá embaixo e se demoro mais em sua porta me perco de vez.


O outro


Desci novamente a escada e entrei no meu corpo para sentir a dor do tombo e ouvir as zombarias, não tinha como escapar desta sina.
Doía tudo em mim e não podia me levantar. Mas uma mão forte tocou meu rosto com carinho e me beijou os lábios ainda sangrando pelo tombo. Ouvi uma declaração de amor nos meus ouvidos e senti lágrimas quentes misturar-se com a minhas.
Nada entendia do que acontecia, abri meus olhos para ver quem era e não me assustei com sua aparência cansada e sofrida. Vi nele um jovem que sempre me amou mesmo antes de eu o conhecer.
Seu olhar de fúria voltou-se para porta que se fechou para mim e falou coisas desagradáveis de ouvir e me acusou de ser ingênuo por acreditar que dentro daquele coração fechado eu pudesse um dia morar.
Chorei até desfalecer em seus braços novamente e só despertei dentro do seu coração, um lugar quente e confortante, onde me alimentei de seu amor e bebia um cálice de sua vida.
Hoje estou do lado de fora deste ninho caloroso e receptível.
Por decisão minha nunca mais nele entro. Tem um covil de cobras alimentando do mesmo sangue que ele jurou ser só meu.
Estou subindo novamente os degraus da vida, ainda fraca e com medo, vou ter que passar em frente às portas fechadas e deixar uma marca de perdão para prosseguir minha jornada.
Não temo marcar com perdão as portas fechadas e seguir sem nada dizer, mas temo não achá-las fechadas e ter que encarar os olhos que me maltrataram um dia.
Saberei perdoar se me pedirem para entrar para conversarmos? Poderei ficar diante de minha dor mais uma vez e chorar sem ressentimentos?
Hoje dei meu primeiro passo e estou pondo um pé no primeiro degrau da minha nova vida.


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Autor
Sys
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