O Riso da Saudade (sextina*)
António Castel-Branco
A cálida alvorada já sorri
e teu ser rejubila de vontade
de abraçar essa estrela que se ri
ao ver-te decidida e destemida
no fim desta tão triste e curta vida,
vivida com carinho e com saudade.
No meio da tristeza da saudade
que senti ao lembrar-me que sorri
dos sonhos que aspiravas para a vida...
do modo como impunhas a vontade
às dores que enfrentavas destemida...
soltei as emoções e logo ri.
Mas as lágrimas soltas quando ri,
cintilam com o brilho da saudade
penetrante, tão forte e destemida...
que adubam o silêncio. Pois sorri,
se lutas para impor tua vontade
e decidir o rumo a dar à vida.
Pois esta já tão longa e dura vida
esculpida por alma que se ri
das desditas... da força da vontade,
escorada nos prumos da saudade,
guiada pelo vento que sorri,
é reflexo duma alma destemida.
És guerreira, amazona destemida
pelejando nas páginas da vida,
que é dura, mas por vezes te sorri...
E buscando a verdade que se ri,
sentes o tempo em troca da saudade
esgrimida em defesa da vontade.
Refém deixas de ser desta vontade
que te faz combatente e destemida
e partes, paladina da saudade
que corrói e destrói a própria vida,
em busca do firmamento que se ri
do tempo em que ditoso te sorri.
Se o tempo te sorri, faz-lhe a vontade:
abraça o sol que ri, já destemida,
e vive em pleno a vida sem saudade.
Sintra, 19/02/2007<br />*sextina - forma poética, de origem provençal, constituída por seis estâncias isométricas de seis versos e um terceto final (coda), podendo os versos ser soltos ou rimados segundo um esquema em que se repetem nas outras estâncias, em posições diversas, as palavras finais da primeira estância; o esquema é:
estrofe 1 ... A B C D E F
" 2 ... F A E B D C
" 3 ... C F D A B E
" 4 ... E C B F A D
" 5 ... D E A C F B
" 6 ... B D F E C A
coda ....... AB CD EF