Afago o tempo que passou
com a mestria do escultor,
dou asas à nostalgia
com o ímpeto do falcão
que ensina os filhotes a voar.
Paro os ponteiros das horas
que transporto nos botões
da camisa desabotoada,
peito aberto ás memórias que porfio.
Procuro o bilhete de ida
em apeadeiro sem bilheteira,
de um comboio rocinante
abalado pelo vento dos moinhos que soprei.
Não chega para me aquecer
a faúlha que me chega
das fogueiras que ateei,
quisera embarcar sem medo
em caravela enfunada
pelo sopro da besta que nunca temi
e que destilei em caldos
rasos de lágrimas pelas artérias exangues
em que me consumi ,
sempre em busca da estação seguinte
e agora que quero voltar
esmorece-me o voar de morcego
que perdeu o radar.
Nunca serei poeta na terra que piso,
nem versejador de cantigas de amigo,
sou um nicho de comédia
entre o que fui e o que quis ser.
Não sei nunca se serei,
não sei sequer se sou,
mas sei que o render da guarda se aproxima,
em marchar afinado por banda de bombos
e guizos em bolandas
por uma qualquer romaria minhota
sem maestro nem lamiré,
desafinada como sempre fui.