Poemas : 

O que sempre quis ser (?)

 

Afago o tempo que passou
com a mestria do escultor,
dou asas à nostalgia
com o ímpeto do falcão
que ensina os filhotes a voar.
Paro os ponteiros das horas
que transporto nos botões
da camisa desabotoada,
peito aberto ás memórias que porfio.

Procuro o bilhete de ida
em apeadeiro sem bilheteira,
de um comboio rocinante
abalado pelo vento dos moinhos que soprei.
Não chega para me aquecer
a faúlha que me chega
das fogueiras que ateei,
quisera embarcar sem medo
em caravela enfunada
pelo sopro da besta que nunca temi
e que destilei em caldos
rasos de lágrimas pelas artérias exangues
em que me consumi ,
sempre em busca da estação seguinte
e agora que quero voltar
esmorece-me o voar de morcego
que perdeu o radar.

Nunca serei poeta na terra que piso,
nem versejador de cantigas de amigo,
sou um nicho de comédia
entre o que fui e o que quis ser.
Não sei nunca se serei,
não sei sequer se sou,
mas sei que o render da guarda se aproxima,
em marchar afinado por banda de bombos
e guizos em bolandas
por uma qualquer romaria minhota
sem maestro nem lamiré,
desafinada como sempre fui.
 
Autor
jaber
Autor
 
Texto
Data
Leituras
891
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/05/2010 21:07  Atualizado: 25/05/2010 21:07
 Re: O que sempre quis ser (?)
Esse desafino soou-me bem afinado.
O poeta sente, pensa, esmorece e sempre reaparece.
É o seu des(a)tino.
Muito bom.
abraço
nuno

ps - rir é bom e a comédia é melhor que a tragédia... na vida.