Eu quero... ser tudo aquilo que mereço
Eu tenho... a eterna ilusão de um dia entender
Eu acho... que talvez seja mais do que pareço
Eu odeio... a vulgar banalidade de me perder
<br />Eu escuto... os meus múrmurios e em neles adormeço
Eu cheiro... um mundo feito de cores ao alvorecer
Eu imploro... em preces vãs numa língua que não conheço
Eu arrependo-me… por vezes sem sentir nem transparecer
Eu amo... a ti meu amor é este o meu triste preço
Eu sinto dor... numa estranha e doce sensação por descrever
Eu sinto falta... de mim quando só de mim me esqueço
Eu importo-me... com tudo para enfim nada compreender
Eu sempre... fujo das amarras deste imenso mundo expeço
Eu acredito... em fábulas imaginárias com vozes a condizer
Eu danço... entre musas aladas num inebriante jogo desconexo
Eu canto... meus sonhos sem nada nem ninguém me deter
Eu choro... onde as lágrimas se confundem com fugaz chovediço
Eu falho... quando acerto na desilusão de meu mal me querer
Eu luto… com fantasmas soturnos num mar envolto em sargaço
Eu escrevo... frases dislexias que só para mim irei remeter
Eu ganho... essa vã esperança envolta em teu suave feitiço
Eu perco... o som da minha alma sem esperança de me socorrer
Eu nunca digo... só apenas sinto neste meu vazio postiço
Eu sou... a neblina ocre reflexo na bruma por resplandecer
Eu fico feliz... essa alegoria fingida plantada em terreno movediço
Eu tenho esperança... que me encontre antes de assim perecer
Eu preciso... de acreditar que tudo isto enfim é real e maciço
Eu deveria... quem sabe apenas somente viver
António de Almeida